Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
1977) Michael Jackson (10.7.2009)
Me deixem correr aqui o restinho de tinta que sobrou para falar desse personagem. MJ surgiu para mim como um neguinho de cabelo bombril, cantando, no Jackson Five, uma açucarada canção de amor, “Ben”, que fez sucesso enorme nos anos 1970 e foi sua primeira música a atingir o #1 da “Billboard”. O que ninguém sabe é quem era Ben. Não, não era um menininho impúbere. Ben era um rato inteligente. Ele se comunicava meio telepaticamente com Willard, um garoto esquisitão cuja mãe viúva era maltratada pelo dono da casa onde viviam, a tal ponto que o garoto e o rato, agora comandando um exército deles, desencadeiam uma horripilante vingança sobre o vilão, interpretado por Ernest Borgnine.
Willard (1971), dirigido por Daniel Mann, foi um sucesso de bilheteria tão estrondoso que logo veio uma continuação, Ben (1972), dirigido por Phil Karlson. Este segundo filme lançou a canção interpretada por Jackson (composta por Walter Scharf e Don Black). Vejam só: um menino antissocial e vingativo, cujo melhor amigo (ousarei dizer “cujo único amor”?) é um rato assassino, a quem ele dedica essa canção... Fico imaginando as dezenas de vezes em que Jackson, com 14 anos, viu e reviu os filmes que lhe deram seu primeiro grande sucesso, e as cenas em que os ratos, comandados por Willard & Ben, devoravam vivo o adulto cruel que os perseguia.
A vida de Jackson foi uma mistura de tudo isso: filme B de terror, palco de megashow, barraco-de-família-pobre. Ele era frágil, temperamental e histérico, como aqueles “castrati” de ópera do século 18, produzidos pela indústria do sucesso a qualquer custo. Virou um perverso polimorfo, que menos explorou do que foi explorado. Era tão pouco pedófilo quanto Lewis Carroll.
Sentia-se um Deus e um Monstro. A imprensa diz que ele comprou o esqueleto de J. Merrick, o “Homem Elefante”, por um milhão de dólares. Jackson negava, mas dizia: “Eu gosto da história do Homem Elefante. Ele parece muito comigo, e eu consigo entendê-lo. Essa história me fez chorar, porque eu me vi refletido nela, mas não, nunca tentei comprar nada... Onde iria pôr aqueles ossos? E para quê iria querer ossos?”.
Jackson tentou fazer em seu próprio rosto aquele “morph” que transformava umas pessoas em outras no seu clip “Black and White”. Foi um dos primeiros a tentar manipular a própria carne e o próprio osso como se fossem pixels, grãos de luz digital. Devia considerar sua imagem mais real do que seu corpo. Era um ser artificial num corpo biológico, algo que os EUA têm produzido em série, como seu contemporâneo Ronald Reagan, um canastrão obtuso que exerceu a Presidência dos EUA como se interpretasse um papel a mais em mais um filme, decorando textos e obedecendo instruções da equipe. Jackson fazia o mesmo, só que era um menino violentado, ressentido, afetado e talentoso, capaz de se apaixonar por um rato. Parecia-se mais com sua estátua no Museu de Cera de Madame Tussaud do que com uma pessoa.
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