Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
1969) Resposta de nordestino (1.7.2009)
“Quais foram as leituras básicas da minha infância? Ih, esta entrevista está começando bem. Estou vendo que vocês querem coisas do fundo do baú. Bem, infância você sabe como é. A gente não escolhe o que vai ler, ou melhor, a gente lê o que tem à mão. Nesse sentido eu tive uma infância privilegiada. Não porque foi uma infância rica, com tudo entregue de bandeja. Meus pais passaram dificuldades, mas nunca faltou o básico. E básico inclui leitura, não é mesmo? O grande problema da infância de hoje, principalmente na classe média alta, é que está havendo uma industrialização da infância. Criança não lê, não brinca. É um verdadeiro treinamento que elas recebem: judô, natação, inglês, violão... A criança é vista como um pré-profissional, alguém em processo de profissionalização, que aos 10 anos já está se preparando para competir no mercado, para fazer sucesso... Novos tempos!
“Existe uma coisa que eu acho essencial: saber brincar. O tal do espírito lúdico. A criança não pode ficar condicionada a esse negócio de pra quê que vai servir. Criança tem que descobrir as coisas movida pela própria curiosidade dela. Se botar aquilo como obrigação, não dá em nada. Se você obrigar uma criança a fazer uma conta de somar, ela vai levar meia hora, vai ficar mordendo o lápis, balançando a perna, olhando pela janela. Mas se ela ganha um jogo de armar, passa a mesma meia hora montando e desmontando o negócio até entender como funciona, e ai de você se tentar montar também, porque provavelmente não vai conseguir. Criança é movida a curiosidade. E quem diz curiosidade diz brincar, diz: isto parece com isso, que dá certo com aquilo, que me lembra aquilo-outro... E não tem mais fim.
“Leitura é a mesma coisa. É preciso deixar por perto, elogiar em voz alta para alguém para que a criança ouça. Dar risadas enquanto lê um livro. Dizer para alguém; “Não sei se vou dormir direito hoje... fiquei muito impressionado com o que eu li nesse livro!” E deixar o livro de bobeira, como que por acaso, em cima da mesa da sala. Criança não quer o que os adultos procuram forçar para dentro do seu mundo. Quer o que faz parte do mundo dos adultos e lhes é vedado.
“Me lembro de meu avô, que lia a Bíblia em silêncio, depois fechava com uma pancada seca e dizia: ‘Isso não é coisa que se faça com um filho de Deus!’ Eu ficava me roendo de curiosidade de saber o que era. A Bíblia é uma grande influência, mas o defeito dela é que não é um livro, é uma biblioteca inteira. Ali a gente acha o que procura e o que não procura, acha guerra, violência, intriga, história, geografia, sacanagem... Sim, sacanagem, vejam a história de Noé com as filhas, vejam Sodoma e Gomorra... criança fica de olho, não perde uma chance. Não que eu tenha lido muito a Bíblia, meus interesses eram outros. Como é mesmo a pergunta? Minhas leituras básicas? Pode botar aí: Monteiro Lobato, Malba Tahan... E a Bíblia. Pra dar credibilidade, né?”
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