Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
1854) Arte, mercado, especulação (17.2.2009)
(quadro de Anselm Reyle)
Minha coluna tem se transformado nas “Lamentações de Jeremias” sobre o terrível golpe que se abateu sobre os milionários do mundo. Por enquanto – daqui a um ou dois anos, esperem quando o Tsunami chegar na classe média brasileira! Perderam bilhões de dólares, perderam propriedades, perderam casamentos... Perderam tudo? Nem tanto, se ainda não se desfizeram de suas coleções de arte contemporânea. Revistas variadas têm feito a cobertura do extraordinário “boom” das artes plásticas nos últimos anos, com artistas vivos e até jovens desbancando em preços os grandes mestres dos séculos passados.
Segundo um artigo de Bem Lewis na revista eletrônica “Prospect”, existe toda uma geração de novos ricos, com muito dinheiro para rasgar, bancando obras de arte contemporânea em cuja valorização eles apostam (afinal, arte é um mercado futuro que não se distingue do dólar, dos CDBS ou das ações). Esses bilionários, em vez de comprar Van Goghs e Picassos, cujo preço já está nas nuvens, investem pesado em artistas novos e multiplicam o valor dessas obras em taxas inacreditáveis. Segundo Lewis, “o volume das vendas de arte contemporânea na China aumentou 983% no ano de 2005-2006. Na Rússia, esse valor aumentou 2.365% em cinco anos (2000-2005), enquanto seu valor de mercado crescia ‘apenas’ 300%”.
A valorização desses artistas atinge tais níveis porque começam lá de baixo, ao contrário de um Gauguin ou Braque cujo preço já vive nas alturas. O pintor chinês Zhang Xiaogang viu o valor de suas obras ser multiplicado por 1.000 em uma década (1999-2008); as obras do norte-americano Richard Prince se valorizaram de 60 a 80 vezes entre 2003 e 2008; o pintor alemão Anselm Reyle era desconhecido em 2004, quando um quadro seu vendia pelo preço médio de 14 mil euros. Hoje, ele tem um estúdio com 60 assistentes produzindo quadros com preço médio de 200 mil euros.
São os recém-bilionários que estão inflacionando esse mercado: “Querem colecionar arte contemporânea, em parte, porque gostam dela, em parte porque é um símbolo de status, em parte porque grande parte das obras dos grandes mestres estão presas nos Museus, e em parte porque parece um investimento confiável”. Todo este fenômeno confirma a enorme distorção que o mercado de arte está sofrendo. Não existe mais Mercado de Arte, existe Arte de Mercado. Cem anos atrás definia-se o que era a grande Arte através de discussões estéticas, filosóficas, etc. Claro que havia um “lobby” político aqui e outro acolá, para valorizar a obra de Fulano ou Sicrano, mas ninguém poderá dizer que Van Gogh ou Rembrandt pintavam unicamente visando o mercado, como não pode dizer que Shakespeare escrevia apenas para agradar ao Rei ou Michelangelo esculpia para agradar o Papa. Mas essa arte de hoje é Arte de Mercado, voltada para os leilões e as aquisições, e não reflete a mentalidade de quem a faz, mas a mentalidade de quem a compra e a patrocina.
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