Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
domingo, 28 de março de 2010
1836) “O curioso caso de Benjamin Button” (27.1.2009)
Baseado num conto de F. Scott Fitzgerald, este é o filme com maior número de indicações para o Oscar deste ano. É, surpreendentemente, dirigido por David Fincher, autor de filmes de suspense (Seven, Zodiac) e do famoso Clube da Luta, já comentado aqui, um thriller eficiente e muito bem feito, apesar de uns flertes com o machismo-fascismo. Todos esses muito diferentes deste filme longo, nostálgico, cheio de bons sentimentos e daquilo que hoje em dia se chama “lições de vida”. Fosse Benjamin Button dirigido por algum desses cineastas de auto-ajuda como Steven Spielberg, eu talvez o tivesse achado insuportavelmente açucarado. Sendo de David Fincher, é sinal de que a humanidade não está perdida.
Benjamin é um sujeito que nasce com 90 anos de idade e vai remoçando ao longo da vida. É uma premissa fantástica, que desorienta os críticos mais cartesianos, como Roger Ebert, o qual achou o filme um desperdício de talentos. Bobagem. É uma das premissas mais batidas da literatura fantástica, e o seu desafio está justamente em estabelecer logo de cara um traçado obrigatório para o filme e segui-lo sem deixar que o espectador boceje. Ou seja, com quinze minutos de filme a gente já sabe que o personagem vai remoçar. Cabe ao diretor e ao roteirista inventar coisas interessantes para lhe acontecerem durante o trajeto.
Eu tinha achado o filme muito parecido com Forrest Gump. O mesmo personagem fora do comum e simpático; o mesmo trajeto pelo mundo, ao longo de décadas; a mesma sensação de ver os fatos da História através dos olhos do protagonista; havia até mesmo algumas cenas quase idênticas, como uma tempestade no mar. E em seguida vim a descobrir que o roteirista dos dois filmes é o mesmo, Eric Roth, o que explica a extrema semelhança estrutural dos dois filmes, além do clima nostálgico, distanciado, conduzido por uma voz-guia que atravessa as décadas como quem conta uma história da qual só recorda algumas partes.
O filme é excelente no que se propõe, em parte pelas sucessivas reconstituições de época, pois a história vem desde a I Guerra Mundial até a destruição de Nova Orleans pelo furacão Katrina. A maquiagem consegue dois prodígios: transformar Brad Pitt primeiro num ancião e depois num rapazola. Cate Blanchett, como sempre, está magnífica. O roteiro de Roth me parece dever muito, também, ao estilo de escrever e filmar de Jean-Pierre Jeunet (Amélie Poulain), encadeando de maneira engraçada e engenhosa fatos irrelevantes, extraordinários.
Li em 1962 um contozinho de ficção científica sobre um planeta chamado Arret, onde as pessoas nasciam idosas, rejuvenesciam, e conseguiam, em seus últimos anos, reunir um máximo de experiência de vida e de energia física. O conto (não recordo o autor nem o título) ironizava o nosso mundo às avessas. Benjamin Button nos dá um vislumbre das belezas e das tristezas dessa vida ideal.
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