Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 27 de março de 2010
1835) Banco Imobilionário (25.1.2009)
("It's a Good Life", episódio de Além da Imaginação)
A Operação Satiagraha, da Polícia Federal, indiciou o banqueiro Daniel Dantas, do banco Opportunity, como envolvido em numerosos episódios de enriquecimento ilícito. Agora, autoridades da República e parte da imprensa desencadearam uma operação “Salta e Agarra” destinada a pressionar, desacreditar e intimidar o delegado Protógenes, da PF, e o juiz De Sanctis, que decretou a prisão de Dantas. Na impossibilidade de provar a inocência do acusado, a tática da defesa é encontrar culpas nos acusadores.
Parece que todo mundo no Brasil (menos esse delegado e esse juiz) tem medo de Daniel Dantas. Por que? Que dossiês comprometedores terá esse cidadão a respeito de cada membro do Executivo, do Legislativo e do Judiciário? Que quantidade enorme de informações secretas? Que caixa-forte repleta de discos rígidos? Que bunker blindado, atulhado de fotos, gravações grampeadas, documentos cabeludos com as assinaturas mais prestigiosas da República? Que medo terrível é este que faz as autoridades pressionarem dessa forma os indivíduos que ameaçam o figurão? Olhe, se eu fosse um corretor de seguros era mais fácil eu aceitar um seguro de vida para Osama Bin Laden do que para esse delegado e esse juiz.
O Brasil (sejamos honestos: o Mundo) é uma espécie de jogo de Banco Imobiliário onde um grupo de crianças gananciosas faz o que pode para destruir os imperiozinhos das outras e engoli-los com o seu imperiozão. É um jogo de Banco Imobilionário disputado por crianças cruéis e sem escrúpulos. Me lembra o terrível conto fantástico de Jerome L. Bixby, “It’s a Good Life”, em que num vilarejo norte-americano nasce uma criança com o poder de manipular o mundo à sua vontade. Basta ela desejar uma coisa e essa coisa acontece. É uma parábola freudiana de terror, sobre a perversão e a onipotência do desejo. Uma das primeiras coisas que o garoto faz é arrancar o vilarejo inteiro do mundo real: as pessoas que tentam fugir dali vêem-se perdidas numa zona crepuscular, num Nada que não pode ser transposto. Qualquer adulto que desagrade ao menino é imediatamente destruído. Pessoas que o repreendem ficam sem a boca. Todos compreendem o terrível poder do pirralho e passam a bajulá-lo o tempo inteiro, para continuarem vivos.
Assim é o mundo de hoje em relação a figurões como Daniel Dantas e outros por aí. Eles varrem do seu caminho os adultos que querem interromper sua diversão. Seu objetivo não é enriquecer, não é multiplicar a própria riqueza, não é desfrutar a própria riqueza. São vítimas de uma compulsão de poder, são prisioneiros da própria onipotência, à qual não podem deixar de obedecer um instante sequer, porque ela se transformou em sinônimo de sua própria vida. No dia em que Daniel Dantas pronunciar (ou apenas pensar) a frase “Não posso fazer isto” ou “Não devo fazer isto” sua onipotência será estilhaçada como uma bolha de sabão, e ele desmoronará, transformado num pequeno monte de cinza inorgânica.
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