Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
domingo, 14 de março de 2010
1788) Obama x Roberto Dinamite (2.12.2008)
Eu tinha registrado o título acima no caderno onde anoto temas para estas colunas. O título já diz tudo, e eu considerei a possibilidade de sugerir ao JPB que publicasse o título e deixasse o resto do espaço em branco. Para que chover no molhado? Mas, ai! Folheando o “Globo” no café da manhã, deparo-me com a coluna do impagável Agamennon Mendes Pedreira, e a foto de Barack com a legenda “Roberto Dinamite”. Agora vou ter que me explicar publicamente.
A eleição de Dinamite para presidente do Vasco da Gama e de Obama para presidente dos EUA me produziram emoções entrecruzadas. Por um lado, tive a alegria pela vitória de um candidato que, não importam os defeitos que certamente tem, é infinitamente melhor do que o presidente que o antecedeu. (E olha que eu nem torço por Vasco e EUA – sou Flamengo e Brasil.) Por outro lado, o desespero de ver o quão pouco essa vitória vai adiantar. São vitórias de Pirro. Roberto e Barack assumem o comando de entidades sangradas, enfraquecidas, dilapidadas. Um Vasco moribundo, uma Norte-América agonizante. Suas vitórias lembram, melancolicamente, a entrada de Napoleão em Moscou, que ele supunha uma invasão triunfal, e que se limitou ao desfile de um exército exausto por uma capital que os próprios habitantes incendiaram antes de evacuar. Que raio de vitória é essa?!
George W. Bush e Eurico Miranda (como eu gostaria de ver um curta-metragem com esses dois caras frente a frente, numa mesa de bar!) fizeram com suas respectivas entidades a política da terra-arrasada, de deixar para o sucessor um cabide de papagaios e micos, um jacá de pepinos e abacaxis. Bush deixa um país refém das próprias guerras, com a coluna vertebral econômica partida e sem chances de cura no horizonte. Eurico deixa um Vasco sem time, sem dinheiro em caixa, e infiltrado de sabotadores a seu soldo, destinados a minar tudo que for tentado pelo novo presidente, para produzir na torcida (como já está produzindo) aquela sensação de “Pois é, com O Outro era melhor...”
Lembra a frase sarcástica de Borges, ao narrar a derrubada do ditador Perón, inimigo de sua família: “Não se sabe com quanto dinheiro conseguiu fugir”. Eurico já bateu em retirada e está por aí, “guardado por Deus, contando os seus metais”. Bush ainda tem pela frente dois meses de melancolia a sós na Casa Branca (todo mundo o desertou, segundo a imprensa, menos Condolezza Rice) antes de mergulhar no oblívio. Queira Deus que não volte a beber; nem a ele desejo isto. Enquanto isso, os novos presidentes terão que remar contra uma correnteza de dívidas, problemas, projetos insensatos, desconfiança interna e externa, cobranças desesperadas de quem já não aguenta mais. São anos e anos de despautérios, de bombas-relógios armadas pelo antecessor e que pipocarão nas mãos dos recém-eleitos. Como diz a antiga frase: “Cuidado com o que você deseja, porque o conseguirá, mas não como pensou que ia ser”.
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