terça-feira, 26 de janeiro de 2010

1571) Foto-camuflagens (26.3.2008)




(foto: Desiree Palmen)

Tornar invisível um corpo sólido (uma pessoa, p. ex.) é algo impossível no presente estágio da ciência. Mas há artistas que tentam – de uma maneira imperfeita, quase que apenas simbólica – invisibilizar pessoas e objetos.

Veja-se por exemplo Desiree Palmen, uma fotógrafa de Roterdam. Ela produz fotos de pessoas vestidas de tal modo a se confundirem com o que há por trás dela.


Ela fotografa (digamos) um banco de jardim, daqueles banquinhos feitos de tábuas estreitas, pintadas de branco, separadas por um centímetro de intervalo. Duas pessoas sentam no banco, a câmara é colocada no tripé, e em seguida as roupas das pessoas são pintadas de modo a reproduzir o “fundo” que elas próprias estavam ocultando.

Olhando a foto, depois de pronta, a gente sabe que existe algo ali, mas não distingue bem o que é. Parece uma zona de turbulência, distorcendo as imagens. Me trouxe à memória o filme de FC Predador, em que um alienigena usa um efeito semelhante para se confundir com a paisagem.

No saite da artista (http://www.desireepalmen.nl/) há várias séries de fotos desse tipo. Uma pessoa está parada diante de uma estante de livros; percebemos uma distorção visual que corre verticalmente ao longo da estante (as lombadas estão tortas, parecendo amassadas) até que, no chão, percebemos os pés do indivíduo que está ali. Sua roupa foi coberta com a pintura ou a reprodução fotográfica dos próprios livros que ele está escondendo.


Noutra foto, uma pessoa prepara-se para subir uma escada, no interior de uma casa. A escada é vista diagonamente na foto. A parte inferior das pernas do modelo está pintada de cinza escuro, cor do patamar onde a escada repousa; suas pernas e a maior parte do seu tronco estão pintadas de marrom, reproduzindo exatamente a posição dos degraus que escondem; um ombro e a cabeça (coberta por um capuz) estão pintados de branco, cor da parede ao fundo.

A pessoa fica invisível? Não, não fica. Em primeiro lugar, o efeito pretendido só é obtido para o ângulo em que se encontra a câmara fotográfica. Qualquer observador postado em qualquer outro ponto daquele ambiente veria a pessoa. E, depois, nunca existe uma correspondência perfeita entre a imagem pintada na pessoa e a imagem ao fundo.


Cientistas estão tentando produzir um efeito parecido. Já vi fotos de jaquetas especiais através das quais se via perfeitamente o ambiente ao fundo: uma rua, carros e pessoas passando. A jaqueta consta de milhares de circuitos eletrônicos embutidos no seu tecido plástico. Nas costas, há milhares de sensores que funcionam como microcâmeras; na frente, milhares de terminais que reproduzem a imagem captada às costas. Assim, se um automóvel passa por trás da pessoas, as câmaras às costas captam seu movimento e o retransmitem para a frente. O indivíduo não “fica transparente”, mas ainda assim é possível ver o que está por trás dele. Nossos netos irão às festas usando jaquetas assim.







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