Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
1557) A vitória das cores locais (9.3.2008)
Leio no Globo um episódio ilustrativo da peleja mais divertida do mundo de hoje: a do Monopolismo Globalizador contra a Resistência Regionalizante. Diz a matéria que alguns anos atrás a rede MacDonald’s instalou uma filial no estádio do Besiktas, um dos clubes de futebol mais populares de Istambul. Como qualquer brasileiro sabe de cor, as cores do MacDonald’s são o vermelho e o amarelo. Cores fazem parte da identidade visual de uma marca. São exaustivamente pesquisadas e discutidas antes de serem adotadas. Lembro de ter assistido uma palestra do designer Aloísio Magalhães em que ele passou uns vinte minutos explicando por que motivo o amarelo da Petrobras era único. Exibiu dezenas de slides mostrando as diferentes percentagens de vermelho contidas nesse amarelo, até se chegar à tonalidade definitiva, que pode ser subliminarmente identificada pelo público num simples olhar. Identidade visual não é apenas um logotipo.
Pois bem: os turcos torcedores do Besiktas sabiam disso “sobreliminarmente”, porque depredaram a pau e pedra a lanchonete do MacDonald’s. O motivo, simples e óbvio, era que o vermelho e o amarelo são também as cores do Galatasaray, o arqui-rival do Besiktas no futebol de Istambul. Será que os americanos não sabiam disso? Provavelmente sabiam, mas não acreditaram que os turcos detestassem tanto aquelas cores. Imagine só se alguém botasse no Estádio Presidente Vargas uma lanchonete pintada de preto e vermelho.
Depois da depredação o MacDonald’s voltou atrás e pintou a lanchonete de preto e branco (as cores do Besiktas), mas o mal já estava feito, ninguém comprava sequer uma batatinha frita. Ronald MacDonald botou o mac-rabo entre as mac-pernas e fechou as portas. Mais sábia (relata o jornalista Fernando Duarte, autor da matéria) foi a cadeia Burger King, que, escaldada pela desgraça do concorrente, abriu uma lanchonete no estádio do Fenerbahce e, em vez do tradicional vermelho de suas lojas, adotou com diplomática prudência o amarelo e o azul do clube turco.
Algo parecido ocorre aqui no Brasil. É o fenômeno da Coca-Cola azul. Como se sabe, a cor da Coca-Cola no mundo inteiro é o vermelho. Mas em Parintins, no Amazonas, onde a empresa patrocina os dois Bois do festival folclórico local, ela teve que se dividir. Nas propagandas do Boi Garantido, a cor usada é o vermelho; no material do Boi Caprichoso, tudo é azul. Em Parintins, essas duas cores têm um significado quase religioso. Quem torce por um Boi não usa a cor do rival, nem sequer pronuncia o nome do rival. A orgulhosa Coca-Cola curvou a cerviz e adotou a cor azul em todo o material de propaganda de um dos dois lados. Perdeu um centavo com isso? De jeito nenhum. Fatura, e fatura à pampa. A vitória regionalista é uma vitória puramente simbólica, talvez uma ilusão de poder. O Monopolismo Globalizador invade e fatura do mesmo jeito. Mas, às vezes, vale mais um gosto do que seis vinténs.
A globalização e sua constante luta para manipular as culturas regionais... até quando isso?
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