quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

1548) O mundo da droga (28.2.2008)



No artigo “The Return of Superfly”, que serviu de inspiração para o filme de Ridley Scott O Gangster, Mark Jacobson entrevistou o ex-chefão da droga Frank Lucas (interpretado no filme por Denzel Washington). Lucas desestabilizou o mercado de drogas em Manhattan ao cortar o fornecedor tradicional (a Máfia) e ir comprar sua matéria-prima diretamente na Ásia. Diz ele que viajou pela selva, visitando campos de papoula onde os trabalhadores interrompiam suas atividades quando ele surgia na companhia dos barões da droga: ninguém jamais tinha visto um homem negro em carne e osso. Lucas conseguia vender uma droga de alta qualidade pela metade do preço. Os mafiosos reclamaram no início, mas depois associaram-se a ele, não mais como fornecedores, mas como revendedores.

No artigo, Lucas relembra: “Colocávamos a droga para vender às quatro da manhã, quando a polícia trocava de turno. Isso nos dava cerca de duas horas de intervalo até que o próximo grupo de policiais chegasse. Mas os meus compradores... era possível acertar o relógio pela chegada deles. Por volta das quatro horas, era tanto negro na rua que dava para fazer um filme de Tarzan. Tiveram que mudar a rota do ônibus da Oitava Avenida. Pergunte ao Departamento de Trânsito se não é verdade. Às nove horas, não me restava uma grama sequer. Tinha vendido tudo, e estava com um milhão de dólares no bolso”.

A lógica capitalista diz que tudo tem um preço, se houver quem pague por ele. Até mesmo o suicídio. A droga é um suicídio a prestações, e, a julgar pela cara que os sujeitos fazem, muito prazeroso em sua fase inicial. (Depois deixa de proporcionar prazer, fica proporcionando apenas o alívio à dor – mas aí já falta pouco para o fim.) Imagino que num futuro próximo serão instaladas Cabines de Suicídio nas praças e outros logradouros públicos. O sujeito vai no caixa, paga mil reais, pega a ficha, entra na cabine e se mata. Serão cabines como as dos banheiros químicos, onde o cliente será dissolvido num banho de ácido ou coisa que o valha.

Parece absurdo? Não mais que a realidade. A heroína vendida por Lucas chamava-se “Blue Magic”, e Mark Jacobson a situa no seu contexto histórico: “No Harlem do começo dos anos 1970, havia muitas marcas da droga. Tru Blu. Mean Machine. Could Be Fatal. Dick Down. Boody. Cooley High. Capone. Dind Dong. Fuck Me. Fuck You. Nice. Nice To Be Nice. Oh, Can’t Get Enough of That Funky Stuff. Tragic Magic. Gerber. The Judge. 32. 32-20. O.D. Correct. Official Correct. Past Due. Payback. Revenge. Green Tape. Red Tape. Rush. Swear to God. PraisePraisePraise. KillKillKill. Killer 1. Killer 2. KKK. Good Pussy. Taster’s Choice. Harlem Hijack. Joint. Insured for Life. Insured for Death… Estas eram apenas algumas das marcas carimbadas nos saquinhos de celofane. Mas nenhuma delas vendia tanto quanto a Blue Magic, de Frank Lucas”.

Eis porque a idéia das Cabines de Suicídio não me parece despropositada.



3 comentários:

  1. Olá Bráulio, seu blog é excelente!

    Não sei se você conhece o desenho americano Futurama, dos mesmos criadores dos Simpsons. No 1º episódio, num futuro remoto, a primeira cena de um dos personagens principais se passa numa cabine (tipo telefônica) em que as pessoas pagam para se retirarem da vida (com direito a escolha de morte lenta ou rápida).

    Muito semelhante à sua ideia das 'Cabines do Suicídio'. Abraços!

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  2. "Imagino que num futuro próximo serão instaladas Cabines de Suicídio nas praças e outros logradouros públicos. O sujeito vai no caixa, paga mil reais, pega a ficha, entra na cabine e se mata. Serão cabines como as dos banheiros químicos, onde o cliente será dissolvido num banho de ácido ou coisa que o valha."

    Sim, acho que algo semelhante existirá no futuro. No filme de Alfonso Cuarón, Children of men, há um pílula que o governo distribui e que qualquer um pode usar quando quiser.

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