quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

1513) Yoko Ono (18.1.2008)


O Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo tem em cartaz uma exposição desta artista japonesa. Há pessoas que a detestam a ponto de sair do sério quando ouvem seu nome, e atribuem-lhe tudo que não presta, principalmente a dissolução dos Beatles. Outras a consideram uma das maiores artistas do século 20. Eu, que tenho uma vocação danada para diplomata, não vou nem tanto ao mar nem tanto à terra. A paixão de John Lennon por essa japonesa baixinha e enigmática sempre me pareceu uma coisa natural, e se os Beatles se acabaram por causa disto (não foi: foi por causa de dinheiro) pior para eles. Quanto à arte praticada por ela... bem, não me parece nem melhor nem pior do que a dos grandes artistas conceituais de nossa época. Ou aceitamos tudo, ou rejeitamos tudo.

Lennon era um sujeito inteiramente emocional. Neste aspecto, era o contrário do tranqüilo e calculista Paul McCartney, que raras vezes na vida deu um ponto sem nó. Lennon “era todo coração”, como Maiakovski, e o fascínio de sua personalidade está no fato de que era transparente, escancarado, nada escondia de si nem dos outros. Enganava-se com freqüência, fazia um monte de bobagens, mas o valor que mais prezava era a sinceridade, a franqueza. Tudo que fazia era verdadeiro, não era pose nem afetação; sua relação com Yoko não foi diferente.

Três pessoas foram importantes na vida de Lennon. A primeira foi sua mãe, Julia, que não pôde criá-lo (encarregou disto sua irmã mais velha), adorava-o e era adorada por ele, e permaneceu sempre como um “obscuro objeto de desejo” do filho, que veio a compor para ela canções notáveis como “Julia”, “Mother” e outras. A segunda foi sua esposa Cynthia, não por si própria, coitada, mas pelo papel que não desempenhou. Lennon a engravidou sem querer, e casou por mero apavoramento. Cynthia fez o que pôde para administrar uma situação (fama & fortuna) para a qual não era preparada. Caso clássico de casamento que nunca poderia dar certo. A terceira pessoa importante para Lennon foi seu parceiro McCartney, “amigo de fé, irmão camarada”, que mantinha com ele uma competição criativa movida por uma cumplicidade que beirava a telepatia.

Quando Yoko Ono surgiu, ela foi ocupando aos poucos esses três papéis. Tornou-se a Mãe, depois a Esposa, e depois a Parceira. Lennon, que vinha de uma fase conturbada em que (ao que se diz) tomou LSD quase diariamente durante um ano, estava com os nervos à flor da pele, a sensibilidade emotiva num grau máximo. Yoko Ono ocupou todos os espaços de sua mente. Isto coincidiu com a morte do empresário Brian Epstein, evento que foi, concretamente, o começo do fim da banda. Os rapazes se viram entregues a si próprios para administrar o caos financeiro que Epstein sempre ocultara deles. Daí em diante, foi um tobogã de desacertos e desentendimentos, e quem pagou o pato foi Yoko Ono. Para o precário nível mental de um público de show-business, ela era um bode expiatório muito mais inteligível.

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