Podemos distinguir na Matemática o “processo dinâmico” em que a demonstração de um teorema transcorre ao longo do Tempo, e o “resultado estático” a que ela chega, quando bem sucedida. No primeiro caso, acompanhamos a evolução do raciocínio do matemático como acompanhamos uma história contada por um escritor. Mistérios e problemas vão surgindo e vão sendo satisfatoriamente explicados e resolvidos, até um desfecho final que “amarra” harmoniosamente todos os elementos que nos foram apresentados. Em casos assim, o pensamento matemático compartilha alguns elementos estéticos que encontramos no teatro ou no romance. Por outro lado, o resultado de tais raciocínios resulta muitas vezes numa fórmula abstrata, ou num diagrama geométrico, que ao serem vistos produzem um impacto estético imediato em que os contempla. Neste último caso, tais diagramas já existem num terreno em comum com o das Artes Visuais.
A Geometria, sendo a tradução visual da Matemática, pode nos dar uma satisfação estética parecida com a que nos dão as Artes Plásticas. Não sei se no computador de vocês existem esses protetores-de-tela, ou “screen savers”, em que formas geométricas coloridas vão se desfazendo e recombinando o tempo todo. Quando eu descobri isso quase morro de fome, porque ligava o computador e não conseguia mais trabalhar. Ouso mesmo dizer que o protetor-de-tela (com suas fractais, seus vitrais, seus balés abstracionistas) está se tornando uma Arte Decorativa tão importante para nossa época quanto o foi a arte do Mosaico ou a arte do Bordado em outras épocas. Só neste pequenino trecho da Teoria Estética, caros leitores, tem material bastante para várias teses de Mestrado. Alguém se habilita?
A Geometria expressa relações através de linhas, planos, formas, etc. Essas relações podem ter elementos de Harmonia, Simetria, etc. que encontramos expressos nas Artes Visuais. Alguém dirá que as Artes Visuais são artes porque expressam o modo humano de ver as coisas, ao passo que a Geometria, sendo uma Ciência (ou mais precisamente: uma Linguagem que se aplica às Ciências) é necessariamente impessoal, abstrata, não-humana. Bem, certas áreas da arte moderna são tão abstratas quanto um livro de Euclides. Se você consegue extrair satisfação estética de um quadro de Vasarely ou Mondrian, por que não faria o mesmo folheando um livro sobre Curvas Fractais?
Alguns desses grupos de artistas (Neo-Plasticistas, Abstracionismo Geométrico, ou sei lá como se chamam) têm sido criticados porque seu apego ao jogo rígido de formas estaria desumanizando a Arte. Do lado de cá, me parece que eles estão humanizando a Ciência: transpondo o mundo conceitual e árido das formas para um campo em que elas se contaminam da aura estética das obras (de outros estilos) que as cercam, nos museus, nas galerias, e provam que as criações do intelecto puro também podem ser humanas, e belas.