sábado, 12 de dezembro de 2009

1420) Explode coração (2.10.2007)



Eu acompanho futebol há mais de quarenta anos, e não me lembro de uma seqüência tão impressionante. Refiro-me à quantidade de jogadores profissionais que vêm morrendo do coração nos últimos tempos. Se fossem peladeiros de fim de semana, tudo bem, porque o Brasil está cheio de cinqüentões com excesso de peso e de colesterol. Conscientes do problema, eles resolvem queimar gorduras com uma pelada no domingo. O problema é que insistem em fazê-lo depois de um churrasco regado a cerveja. Aí, não dá outra – no terceiro pique o cidadão enfarta. Como não é famoso, não sai no jornal. Mas aposto que acontece toda semana no campo de terra de algum subúrbio brasileiro.

Só que o que está saindo nos jornais são as mortes de jogadores profissionais, em plena juventude, fisicamente bem preparados, trabalhando em clubes com monitoramento científico das condições físicas de cada um. Por que morrem? Não consigo entender. De um mês para cá tivemos a morte do jogador Puerta, do Sevilla; depois um jogador inglês cujo nome e clube me escapam; e no começo de setembro o equatoriano Jairo Andrés Nazareno, do Chimborazo, da terceira divisão do Equador. Mais recentemente, houve o caso do inglês Clive Clarke que teve um piripaque durante um jogo Leicester x Nottingham Forest (este, até agora, está sobrevivendo). No Brasil, o caso de maior repercussão ainda é o daquele zagueiro do São Caetano que morreu durante um jogo disputado em São Paulo. Falo apenas dos casos que me vêm à memória, mas é claro que existem muitos outros. Tem algo de errado num futebol como este.

Sou um indivíduo sedentário – e sedento, daí a quantidade de cerveja que ingiro. Consciente de todos estes problemas, faço minhas caminhadas de vez em quando, porque exercício faz bem à saúde. Mas já dizia minha mãe que “tudo demais é veneno”. Ao que parece cada organismo humano tem seu limite em termos de exercício, de preparação física. Não pode transpor este limite – e não sei se é possível prever com segurança qual é o limite de cada pessoa. Não sendo possível prevê-lo, cada jogador é tratado como se fosse um cavalo de corrida. E aí estão, não me deixando mentir, esses jovens de vinte e poucos anos, atletíssimos, que treinam a semana inteira desde os quinze anos, cheios de saúde, e cujos corações estouram quando menos se espera. O sujeito vira minuto-de-silêncio.

No esporte, como é impossível fabricar o talento, tenta-se fabricar a capacidade atlética, mas com o risco de perder muitas cobaias. Um antigo provérbio chinês (por falar nisso –existem provérbios chineses recentes?) diz: “Cavalo ganha uma vez? Sorte. Cavalo ganha duas vezes? Coincidência. Cavalo ganha três vezes? Aposte no cavalo!” Jogador morre três vezes? Demita o preparador físico. Como as mortes são muitas e espalhadas por todo o mapa, o problema não são os preparadores, é o conceito do preparo.

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