quinta-feira, 26 de novembro de 2009

1382) Fanfic (18.8.2007)




“Fanfic” é o termo inglês para designar “ficção de fãs”, as histórias escritas pelos fãs de determinado autor, série de TV, quadrinhos, etc., utilizando os mesmos heróis. Sempre existiu, mas se propagou exponencialmente com a Internet, o espaço ideal para a fanfic, que é por definição uma coisa feita por gente desocupada, fanática, e sem a menor ilusão de ganhar dinheiro com o que escreve. Escreve por puro prazer, puro deleite. O processo é basicamente o seguinte: você lê um ou vários livros e se apaixona por aquela história, aqueles personagens, aquele universo inteiro. Fica esperando mais livros, mas eles não aparecem, seja porque o autor já morreu, ou porque foi escrever outras coisas. O que você faz? Você começa a escrever novas histórias ambientadas naquele universo.

Há quem diga que o primeiro “fanfic” famoso foi a continuação espúria do Dom Quixote que saiu em 1614, assinada por um tal de Avellaneda, provocando tal indignação em Cervantes que o levou a escrever a II Parte do livro, onde ele senta o malho no plagiador. Não existe neste caso a relação de fã (“Avellaneda” também abre seu livro falando mal de Cervantes), mas aí está presente o mecanismo básico: adotar para si universo e personagens alheios, e escrever novas histórias. De minha parte, acho que o personagem que desencadeou de vez este processo foi Sherlock Holmes. Já em meados do século 20, a quantidade de histórias sherlockianas escritas por Conan Doyle era uma fração ínfima do que se publicava.

Hoje, o universo de Harry Potter é o que tem dado origem ao maior número de “fanfics”. Alguns anos atrás, este posto era ocupado pelas histórias dos universos de “Star Wars” e “Star Trek”. A imensa maioria de tais textos é escrita por adolescentes, sem o menor propósito “literário” e sem a menor esperança financeira. Este último item diferencia a “fanfic” das adaptações e reescrituras feitas por escritores profissionais, utilizando personagens que estão em domínio público. Se Stephen King ou Isaac Asimov escrevem histórias de Sherlock Holmes (como já o fizeram) não é “fanfic”, é literatura profissional.

A Internet é um maracanã de saites dedicados à fanfic. Um dos mais interessantes, que fornece links para todos os textos, é o FanFiction.net (http://www.fanfiction.net/book/). Há um longo índice de personagens/universos, com o número de textos catalogados. A seção recordista atualmente é “Harry Potter” com 306 mil títulos, seguido pelo “Senhor dos Anéis” com 40 mil. Mas o menu é variado: “Sherlock Holmes” tem 720, “Shakespeare” tem 976, “Homero” tem 168, “A Bíblia” tem 2.269, “Charlie e a Fábrica de Chocolate” tem 668, “Desventuras em Série” tem 1.227, “Os Miseráveis” tem 1.484, “O Fantasma da Ópera” tem 8.009, “Alexandre Dumas” tem 177, “Código Da Vinci” tem 206, “F. Scott Fitzgerald” tem 64, “Jane Austen” tem 687, “Charles Dickens” tem 182... Mãos à obra, jovens escritores. As possibilidades, como sempre, são infinitas.

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