domingo, 25 de outubro de 2009

1323) A solidão do tenista (9.6.2007)



A TV a cabo está exibindo o torneio de tênis de Roland Garros, onde o nosso Guga foi campeão três vezes e ficou na História como o maior tenista brasileiro de todos os tempos. Devido ao fuso horário não vejo esses torneios ao vivo (passam de manhã), acabo vendo o VT durante a tarde, tendo antes o cuidado de não assistir o Globo Esporte – assim não sei quem ganhou, e é como se o jogo não tivesse acontecido ainda.

Sempre sonhei (ainda sonho) em ser jogador de futebol. Mas se pudesse voltar no tempo e escolher um esporte como vocação, missão e profissão, eu escolheria o tênis. O futebol é um jogo coletivo, onde ficamos à mercê do talento dos companheiros, da sorte ou azar dos companheiros, etc. No tênis, é o cara, a bola e a Providência Divina. Mais nada. Existe o lado negativo de não ter com quem comemorar e compartilhar a alegria das vitórias; mas tem o lado positivo de não se poder botar a culpa em outras pessoas. O tênis é um exemplo do individualismo no que ele tem de mais pesado, no sentido de tomar decisões sozinho e assumir responsabilidades sozinho.

Há um filme do “Free Cinema” inglês, de Lindsay Anderson, cujo título é: The loneliness of the long-distance runner. A solidão do corredor de longa distância – o maratonista, o cara que faz “cross country”, etc. Aplica-se também ao tenista, que por 2 ou 3 horas enxerga à sua frente apenas a raquete, a bola, a rede, a quadra, o adversário. É um esporte que exige uma concentração enorme, uma enorme capacidade de não fraquejar, não se desorientar, não se afobar, e isto sem um instante sequer para descontrair. No futebol ocorre às vezes do jogador ficar quatro ou cinco minutos sem participar do jogo: tudo está acontecendo do outro lado, a bola não vem para onde ele está. No tênis, a bola está vindo na sua direção o tempo todo, horas a fio, sem parar.

Num desses torneios conquistados por Guga houve um ponto decisivo. Ele começou mal o jogo, estava perdendo, e chegou um momento em que o adversário tinha o chamado “match point”: se ganhar aquele ponto, ganha o jogo. O cara sacou, Guga defendeu, ficaram trocando bolas, e ele ganhou o ponto. Aí disputou e ganhou o ponto seguinte. E ganhou aquele “game”. Ganhou o “game” seguinte. E o outro. E o outro. Ganhou o set, e o próximo set, e foi em frente até vencer a partida. Continuou no torneio, e acabou sendo o Campeão. Mas o título inteiro dependeu daquela jogada solitária em que houve uma troca de bolas durante a qual Guga sabia que se errasse perdia o jogo e estava fora do campeonato.

O tênis é uma disputa em que o cara pode ir de 1% de chances a 99% de chances (ou vice-versa) em questão de meia-hora. É um jogo de personalidades. Disse um comentarista que o nível atual de preparação técnica é tão grande que os títulos são decididos por fatores puramente emocionais: autocontrole, concentração, calma, obstinação, persistência infatigável. Pense numa coisa parecida com a Literatura!

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