(Richard Dawkins)
Têm aparecido alguns livros, nos últimos meses, que parecem indício de uma ofensiva maciça dos cientistas contra a crença religiosa em geral. O mais recente é The God Delusion (“A Ilusão de Deus”) de Richard Dawkins, o biólogo autor de livros de sucesso como O Gene Egoísta. Outros títulos que têm sido comparados ao livro de Dawkins são Breaking the Spell: Religion as a Natural Phenomenon de Daniel Dennett, e Letter to a Christian Nation de Sam Harris. Pretendo voltar a este assunto, mas de início gostaria de fazer uma colocação típica de leigo. Por que motivo os ateus se incomodam tanto com o fato de os crentes crerem, e vice-versa? Existe algo de profundamente inquietante, para algumas pessoas, no fato de alguém discordar de suas opiniões religiosas. Não tem nada a ver com gostar ou não gostar de uma obra de arte, por exemplo. O que chamamos “gosto” é a nossa identificação intelectual e afetiva com uma obra. Se alguém não se identifica na mesma medida, lamentamos, mas isso não muda nosso ponto de vista, nem nos faz sofrer.
No caso da crença em Deus, parece que tantos os crentes quanto os ateus precisam desesperadamente cercar-se de uma unanimidade protetora. Querem que todo mundo pense como eles, para não terem de se justificar a cada passo, para não serem questionados, para não dar explicações. Tanto a existência quanto a não-existência de Deus são usados como um carimbo de “Assunto Encerrado” que lhes permite pronunciar a fórmula mágica: “Estamos conversados, e não se fala mais nisso”. A crença ou não-crença, para eles, é algo que vai além de uma preferência pessoal. Esses indivíduos não dizem que decidiram acreditar ou não-acreditar. Dizem que a Verdade se lhes impôs pelo fato de ser Verdade, e que os que pensam diferente têm que aceitá-la, mesmo que não queiram.
Dawkins é um dos mais veementes adversários da idéia de Deus. Ele diz que cabe à Ciência explicar o que acontece no mundo material – e eu assino embaixo. O problema é que ele trata a religião com uma grosseria de deixar perplexo um modesto agnóstico como eu. Resenhas de The God Delusion citam um trecho em que ele diz: “O Deus do Velho Testamento pode ser considerado o personagem mais desagradável da história da literatura. É ciumento, e orgulha-se disto. É um controlador egoísta e injusto. Um sujeito vingativo e sedento de sangue promovendo limpezas étnicas. Um valentão misoginista, homofóbico, racista, infanticida, genocida, filicida, pestilencial, megalomaníaco, sadomasoquista, caprichoso e malevolente”. Olha, meu amigo, eu até tenho alguns reparos a fazer à Divindade do Velho Testamento (o Deus do Novo Testamento me parece um grande avanço sobre o do primeiro), mas o modo como Dawkins se exprime não tem o tom do cientista que ele pretende ser, e sim o dos fundamentalistas e talibãs que ele diz que combate. Parece que o gene egoísta do fanatismo não ataca somente os crentes.
Você não acha que toda esta frase de Dawkins se refira ao que o homens têm praticado em nome de deus ao longo da história? Eu não vejo uma ofensa ao deus dos outros, já que Dawkins afirma que não existe deus, mas uma crítica a tudo de ruim que a crença em deus causou ao longo dos séculos.
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