sexta-feira, 21 de agosto de 2009

1209) No reino da Dinamarca (27.1.2007)



Acabei de ler um artigo publicado no respeitável British Medical Journal. Na verdade, não sei se é tão respeitável assim, mas, com este título, permito-me ceder à mais conciliatória forma de preconceito, que é render homenagem imediata à pompa e à autoridade. Enfim: o BMJ afirma, num artigo assinado por dois cientistas dinamarqueses e um alemão, que os dinamarqueses são o povo mais feliz da Europa. O artigo está em: http://www.bmj.com/cgi/content/full/333/7582/1289. E não é só isto. Esta posição vem sendo ocupada pela Dinamarca desde 1975, nas pesquisas do chamado “Eurobarômetro”, com os habitantes da Holanda, Luxemburgo e Suécia revezando-se no segundo lugar.

Os dados podem ser conferidos também no “Mapa da Felicidade Mundial” divulgado pela Universidade de Leicester, que classifica o grau de bem-estar subjetivo dos países de acordo com um sistema de cores numa escala de seis, que vão de Infeliz (amarelo claro) a Feliz (vermelho escuro). Neste caso, vale a pena notar que os países mais felizes, além dos escandinavos, são os EUA e Canadá, Austrália, Nova Zelândia e alguns outros europeus. A Argentina, na segunda faixa, é mais feliz que o Brasil, que está na terceira.

No artigo do BMJ, os cientistas descartam fatores como genética, cor do cabelo (parece que na Europa se crê, por um consenso difuso, que os louros são mais felizes), alimentação, clima. Certa importância é dada à comida: os três países mais felizes de acordo com o Mapa de Leicester (Dinamarca, Suíça e Áustria) têm algo em comum: uma culinária meramente utilitária e sem imaginação. Anotem e meditem, amigos gastrônomos.

Os dinamarqueses estão entre os povos que consomem mais álcool e tabaco na Europa; têm altos índices de casamentos e de divórcios; têm uma das maiores taxas de fertilidade européias; praticam muito os exercícios, principalmente bicicleta. Será que isto influi ou contribui? Os cientistas também registraram que depois que a seleção dinamarquesa tornou-se campeã da Europa em 1992, derrotando a Alemanha, o gráfico da felicidade nacional deu um pulo para cima e nunca mais desceu.

Um parágrafo no final do estudo, no entanto, nos dá o que pensar. Dizem os profs. Christensen, Herskind e Vaupel:

“Foi sugerido que há uma relação com boas expectativas sobre o futuro, mas se tais expectativas são exageradamente altas podem também se tornar uma fonte de desapontamento e baixa satisfação. Os dados do Eurobarômetro remontam a 1980 e mostram que os dinamarqueses, embora satisfeitos, mantêm suas expectativas para o futuro bastante baixas, abaixo da média. Em contraste, Itália e Grécia, com índice mais baixos do que os deles, têm expectativas altas para o ano que vem. (...) Os dinamarqueses exprimem sua satisfação com a vida com a expressão “lige nu”, que significa “por agora”, e expressa a idéia de que ‘por enquanto estamos felizes, mas talvez não dure muito”. Quando acabar, é o brasileiro que vive para o aqui-e-agora!

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