(Chico Science)
Comentei aqui uma teoria (“O Rock e a Bossa Nova”, 23.11.06) segundo a qual o equivalente brasileiro ao rock americano não é o rock brasileiro, e sim a Bossa Nova, por ser ela, entre nós, o que o rock foi entre eles: a apropriação de uma música negra por parte de músicos brancos de classe média (os blues lá, o samba aqui). É uma simplificação? É, mas toda comparação simplifica. Quando a gente diz que o mapa da Itália parece uma bota, ou que a Lua crescente parece uma foice, está simplificando, mas as semelhanças são óbvias. É preciso saber que semelhança de processo não é a mesma coisa que semelhança de resultado. O poeta Alexei Bueno afirmou certa vez que o sucessor de Olavo Bilac foi Mário de Andrade, mesmo tendo posições estéticas e políticas totalmente opostas. Mas Mário fez, em seu lugar e seu tempo, o mesmo processo de aglutinação e síntese que Bilac tinha feito no dele.
O que chamamos de Rock Brasileiro é na verdade um movimento de apropriação cultural completamente diferente do rock americano. Não tem nada a ver com lançar mão da música negra, acústica, rural, das comunidades mais pobres. É uma tentativa de imitar uma música que nos chega de fora; a tentativa de produzir “um similar nacional”. Não há nada de errado com isto, porque a maioria dos países faz isto, e não apenas os países subdesenvolvidos. Grande parte da vitalidade cultural dos EUA e do Japão se deve a essa sua disposição permanente de observar, imitar e reproduzir coisas que deram certo em outros países. Fazem uma montanha de lixo que não tem mais tamanho, mas no meio desse processo criam um mercado, esquentam a economia, geram empregos, atraem talentos, e cedo ou tarde começam a pipocar coisas originais e inteligentes, porque gente inteligente existe em todo canto.
A Jovem Guarda (que eu adoro até hoje) foi imitação, o Rock-BR dos anos 1980-90 foi imitação. A criatividade que houve se deveu aos talentos envolvidos (que foram muitos), e não à natureza do processo, que era basicamente imitativa. Existe uma continuidade total entre as obras de Roberto & Erasmo, Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, Brazilian Bitles, Blitz, Legião Urbana, Titãs, Paralamas, Barão Vermelho. Todos estes artistas tentaram reproduzir aqui no Brasil um modelo de composição, instrumentação, arranjos, performance cuja principal (e em alguns casos, exclusiva) inspiração era o rock que se fazia nos EUA nas respectivas épocas.
Por outro lado, temos artistas de hoje que fazem o que o rock americano fez: eletrificar (no lado da criação) e industrializar (no lado da produção) os ritmos negros, rurais, “primitivos”. É aí que entra o trabalho do Mangue Beat pernambucano, e de Lenine, Cabruêra, Otto, As Parêa, Silvério Pessoa, Totonho, Lula Queiroga, Escurinho, Mombojó... O que fazem? Em vez de fazer rock no Brasil, fazem uma coisa que não é rock, mas que é o que seria o rock mundial se os EUA não tivessem existido.
Comentei aqui uma teoria (“O Rock e a Bossa Nova”, 23.11.06) segundo a qual o equivalente brasileiro ao rock americano não é o rock brasileiro, e sim a Bossa Nova, por ser ela, entre nós, o que o rock foi entre eles: a apropriação de uma música negra por parte de músicos brancos de classe média (os blues lá, o samba aqui). É uma simplificação? É, mas toda comparação simplifica. Quando a gente diz que o mapa da Itália parece uma bota, ou que a Lua crescente parece uma foice, está simplificando, mas as semelhanças são óbvias. É preciso saber que semelhança de processo não é a mesma coisa que semelhança de resultado. O poeta Alexei Bueno afirmou certa vez que o sucessor de Olavo Bilac foi Mário de Andrade, mesmo tendo posições estéticas e políticas totalmente opostas. Mas Mário fez, em seu lugar e seu tempo, o mesmo processo de aglutinação e síntese que Bilac tinha feito no dele.
O que chamamos de Rock Brasileiro é na verdade um movimento de apropriação cultural completamente diferente do rock americano. Não tem nada a ver com lançar mão da música negra, acústica, rural, das comunidades mais pobres. É uma tentativa de imitar uma música que nos chega de fora; a tentativa de produzir “um similar nacional”. Não há nada de errado com isto, porque a maioria dos países faz isto, e não apenas os países subdesenvolvidos. Grande parte da vitalidade cultural dos EUA e do Japão se deve a essa sua disposição permanente de observar, imitar e reproduzir coisas que deram certo em outros países. Fazem uma montanha de lixo que não tem mais tamanho, mas no meio desse processo criam um mercado, esquentam a economia, geram empregos, atraem talentos, e cedo ou tarde começam a pipocar coisas originais e inteligentes, porque gente inteligente existe em todo canto.
A Jovem Guarda (que eu adoro até hoje) foi imitação, o Rock-BR dos anos 1980-90 foi imitação. A criatividade que houve se deveu aos talentos envolvidos (que foram muitos), e não à natureza do processo, que era basicamente imitativa. Existe uma continuidade total entre as obras de Roberto & Erasmo, Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, Brazilian Bitles, Blitz, Legião Urbana, Titãs, Paralamas, Barão Vermelho. Todos estes artistas tentaram reproduzir aqui no Brasil um modelo de composição, instrumentação, arranjos, performance cuja principal (e em alguns casos, exclusiva) inspiração era o rock que se fazia nos EUA nas respectivas épocas.
Por outro lado, temos artistas de hoje que fazem o que o rock americano fez: eletrificar (no lado da criação) e industrializar (no lado da produção) os ritmos negros, rurais, “primitivos”. É aí que entra o trabalho do Mangue Beat pernambucano, e de Lenine, Cabruêra, Otto, As Parêa, Silvério Pessoa, Totonho, Lula Queiroga, Escurinho, Mombojó... O que fazem? Em vez de fazer rock no Brasil, fazem uma coisa que não é rock, mas que é o que seria o rock mundial se os EUA não tivessem existido.
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