Saiu no jornal há anos. Um executivo carioca estava numa disputa feroz por um contrato internacional. Coisa de milhões de dólares. Um competidor estava usando meios pouco legítimos para botá-lo para escanteio. A briga de bastidores foi se acirrando durante meses, aí ele contratou um pistoleiro para, numa manhã de trânsito intenso, emparelhar sua moto com o carro do outro sujeito, e dar-lhe meia dúzia de tiros na cara. O que foi feito. A polícia, claro, não fez mais do que ficar parando motoqueiros de forma aleatória e pedindo os documentos.
A imprensa falou muito sobre o caso, e o mandante do crime, sobre o qual, claro, pairavam suspeitas, começou a ser assediado pelo pistoleiro. Queria mais grana. Tinha pensado que o crime “era por causa de mulher”, se soubesse que havia tanta grana envolvida teria cobrado mais. O cara pagou-lhe um bônus, mas um mês depois ele voltou à carga. O que fez o executivo? Resignado, contratou um segundo matador para dar cabo do primeiro. O que foi feito. Escolado, trouxe um pistoleiro lá do Centro Oeste, que para lá voltou depois da tarefa cumprida.
Mas, não é que a história se repetiu? O segundo matador lia a “Veja” e viu uma matéria sobre o mandante. Pediu dinheiro para não ir à imprensa. E o sujeito, já atolado de compromissos até o pescoço (todo mês tinha que ir a Nova York discutir os contratos) deu um suspiro fundo e contratou um terceiro matador para dar cabo do segundo. Desta vez, para não correr riscos com profissionais espertos, providenciou um vagabundo para assaltar o chantagista e matá-lo. O que foi feito. Mas de uma maneira tão labrojeira (=grosseira, incompetente) que a polícia local prendeu o cara e em menos de um mês reconstituiu, do fim para o começo, toda a história aqui resumida. O executivo foi pêgo, e pelo que sei ainda está cumprindo pena, numa cela com TV e frigobar.
Hoje, ligo a TV e vejo Saddam Hussein sendo condenado à morte. Saddam é um jogador velho e calejado, entrou no jogo sabendo a regra. Os EUA o usaram para fustigar o Irã numa guerra que matou um milhão de pessoas e onde até armas químicas foram empregadas. Depois, ficou fazendo barreira à expansão dos aiatolás. Quando começou a engrossar o cangote e a ter ambições próprias, sabia que estava chantageando um executivo poderoso, que tinha meios de executá-lo. Entrou numa briga desigual movido pelo espírito de Tânatos, aquela ambição cega que leva os homens para a armadilha. A mesma que está levando os EUA, muito maiores, para uma armadilha muito maior. Saddam, como Osama Bin Laden, não passa de um matador profissional que resolveu se voltar contra o contratante. Por que? Por dinheiro, por vaidade, por delírio de grandeza – pelas mesmas coisas que fizeram o contratante contratá-lo. Os EUA são como o deus Saturno, que devorava os próprios filhos. Saddam é a bola da vez, e o próximo na fila é Osama Bin Laden.
Nenhum comentário:
Postar um comentário