terça-feira, 26 de maio de 2009

1049) Micro-arte (27.7.2006)




Não, não se trata de arte feita com o auxílio de micro-computadores. São obras de arte em miniatura, algo tão velho quanto obras de arte em escala faraônica. Se alguém disser um dia “É mais fácil a Estátua da Liberdade passar pelo fundo de uma agulha do que o Flamengo ser campeão brasileiro”, não acredite, porque Willard Wigan, um escultor de olho agudíssimo e mãos precisas, realizou a primeira destas proezas, o que pode ser verificado (junto a muitas outras façanhas) no endereço: http://www.willard-wigan.com/art.html

No fim do século 19, um tal de Schiller, preso por falsificação no cárcere de Sing Sing, foi encontrado morto. Revistado, descobriram com ele sete alfinetes, sendo seis de prata e um de ouro, com cabeças que mediam 1,17mm. Schiller passou os últimos 25 anos de sua vida gravando na cabeça de cada alfinete o texto completo do “Pai Nosso” em inglês, um texto com 65 palavras e 254 letras. 

Quando Bill Clinton era presidente dos EUA, um grupo de engenheiros puxa-sacos criou uma imagem mostrando a silhueta do presidente tocando sax. A imagem, com cerca de um centímetro quadrado, era composta de 287.900 minúsculos saxofones, cada um deles com cerca de 6 a 8 milionésimos de metro, o tamanho de um glóbulo vermelho do sangue. As imagens, contudo, eram formadas pela superposição de camadas planas, praticamente bi-dimensionais. 

Coube a engenheiros da Universidade de Osaka (Japão) a criação da menor escultura tridimensional do mundo, um pequeno touro medindo 10 por 7 micrômetros, esculpido em plástico com raios laser. 

No reinado de Elizabeth I da Inglaterra um artífice de nome Mark Scaliot fabricou uma corrente de ouro, com 43 elos; fabricou para ela um cadeado com onze peças de ferro, aço e latão, além de uma chave. A corrente foi então colocada, e fechada, em torno do pescoço de uma pulga, que conseguia arrastá-la sem muito esforço. 

Tá bom, chega de “Você Sabia?”. O propósito deste artigo é teorizar que existe, no campo da Estética, uma região onde o objetivo não é a Beleza, nem o Sublime. Existe uma região da Arte (vizinha ao distrito do Artesanato) onde a manipulação do conceito de Tamanho, Dimensões, etc. é muito mais importante do que o Belo. 

As instalações de Christo, aquele artista que “embrulha” prédios e pontes; as esculturas monumentais como as do Monte Rushmore; os concertos de John Cage, previstos para durar séculos; tudo isto são obras de arte onde o conceito de dimensões e tamanho é o ponto crucial. 

A micro-arte brota daí, embora nesta caso o resultado ainda se mantenha no campo do Artesanato, até mesmo pela dificuldade de transformar o produto final em algo acessível, compartilhável por um público. Não é uma simples demonstração de malabarismo e proficiência técnica. É uma tentativa de impor o espírito humano, a linguagem humana, em domínios (o Micro e o Macro) que parecia vedado aos humanos, mas que a ambição faustiana desses artistas consegue invadir.






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