terça-feira, 26 de maio de 2009

1047) Heloísa Helena (25.7.2006)



Fiquei sabendo pela imprensa que o furacão Heloísa cruzou o território paraibano no sentido sertão-litoral, causando mais alvoroço do que “El Niño”, o que é compreensível numa terra de brisas mansas como a nossa. Dias atrás a imprensa revelou pesquisas eleitorais mostrando que em um mês a senadora do P-Sol pulou de 6% para 10% nas intenções de voto.

Heloísa está atraindo para si todos os eleitores que acreditaram no discurso do PT anos atrás. Para muita gente é um discurso raivoso, ressentido, cheio de santimônia, um discurso arrogante que diz: “Todo mundo é ladrão, todo mundo é corrupto, menos eu, que sou superior a todos”. Foi a desmoralização deste discurso durante o escândalo do mensalão que esfrangalhou a imagem do PT (para muitos, de forma irremediável).

Não sei se terá chances de ser eleita. Talvez, por que não? Erundina não foi? O problema é que hoje em dia mesmo os discursos mais veementes, mais moralmente sinceros, acabam se transformando em jogada de marketing. Se a campanha de Heloísa decolar, vai começar o marketing. Nomeiam logo um Assessor Retórico que vai dizer: “Use linguagem que o povo entenda, não fale economicamente desfavorecidos, fale mendigos”. Aí chega um Assessor Estratégico: “Não bata em Alkmin, Lula já está tirando os votos de Alkmin, bata em Lula”. E um Assessor de Visual: “Encomendei trinta jeans desbotados e consegui uma confecção que fabrica camisas-sociais já com as mangas arregaçadas, um-lu-xo!”

Um amigo meu, tucano até a medula, esnobou HH: “Parece uma professora primária”. Excelente definição para quem pisa e repisa alguns mandamentos primários: não pode roubar, não pode mentir, não pode favorecer, tem que saber administrar. Ficaremos sabendo nos próximos meses quantos brasileiros gostariam de viver num Brasil com a brava Heloísa na presidência. O que mais gosto dela é a atitude decidida, sem papas na língua, o jeito de mulher nordestina braba que só uma capota, aquela mulher-de-morador que escuta uma piadinha do senhor de engenho e volta em cima dos pés, passa-lhe uma descompostura de dedo em riste na frente de todo mundo, e ai dele se fizer cara feia.

No primeiro ano do governo Lula, quando o PT começou a fazer conchambranças a torto e a direito, um grupo de petistas insurgiu-se contra isto, e foi expulso. Os três mais notórios eram a senadora Heloísa, mais os deputados Babá (aquele que tem um cabelo que dá no meio das costas) e Luciana Genro. Na época, propus um mote em martelo agalopado a alguns amigos repentistas: “Heloísa, Babá e Luciana: / isto é tudo o que resta do PT!” Foi muito antes do escândalo do mensalão. O trio saiu do PT e fundou o P-Sol, partido minúsculo com um nome que parece nome de detergente, mas isto talvez tenha até um simbolismo freudiano. Se deixarem o P-Sol chegar ao poder, pode ser que ele desintegre com raio-laser estes cinco séculos de sujeira acumulada. Ou então faz como fez o PT. E a vida continua.

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