(Karlsson - relógio de parede)
A “numerologia” que está na moda é a que atribui valores numéricos às letras do alfabeto e valores simbólicos aos números, para com isto determinar, através do nome, as qualidades morais de alguém, ou adivinhar o seu futuro. Para uns, uma perda de tempo; para outros, uma maneira, entre muitas, de inventar significado para a própria vida.
Chamo também de numerologia (e chamo por conta própria, não sei se o dicionário concorda) a qualquer atividade que procure descobrir harmonias inesperadas nos números que nos cercam, e que são menos raras do que se imagina. A rigor, só existem dez números, e eles se repetem o tempo todo. Se a gente ficar prestando atenção, vai descobrir certos arranjos seriais que nos levam a supor uma intencionalidade da parte do Arquiteto Cósmico.
Por exemplo: na próxima quinta-feira, dia 5 de maio, as pessoas que usam certos tipos de relógio eletrônico verão no mostrador, durante um instante fugaz, a seguinte série de números: 01:02:03 04/05/06. Ou seja: uma hora, dois minutos e três segundos de quatro de maio de 2006. Alguns anos atrás, foi possível ver a série 00:01:02 03/04/05. E assim por diante. Outros horários e datas curiosos a serem vistos este ano são: 06:06:06 06/06/06, ou seja, seis horas, seis minutos e seis segundos de seis de junho de 2006; e 11:10:09 08/07/06, que quer dizer onze horas, dez minutos e nove segundos de 8 de julho de 2006.
Vi num livro de quebra-cabeças uma coisa parecida, referindo-se ao dia 7 de agosto de 1990, quando em alguns relógios apareceu a série 12:34:56 7/8/90 (doze horas, trinta e quatro minutos e cinquenta e seis segundos daquele dia). Tudo depende, é claro, do formato escolhido para exibição dos números no mostrador. As combinações, apesar de numerosas, são limitadas, e cedo ou tarde um número aparentemente “de propósito” acaba aparecendo. São casos típicos de ordem aparente que brota do caos. Se um número finito e reduzido de elementos se recombina o tempo todo de maneira aleatória, ele acaba reproduzindo certos padrões aparentemente simétricos ou ordenados, dando a impressão de algo “proposital” ou fatalista.
Um exemplo crucial disto é quando jogamos na Mega Sena um grupo aleatório de números (digamos: 05 – 11 – 28 – 33 – 40 – 41) e na segunda-feira descobrimos que estamos milionários pro resto da vida. Para todo o resto do Brasil, esta série foi uma série caótica, desorganizada. Para nós, que estamos segurando nos dedos trêmulos o comprovante das dezenas apostadas, é o maior exemplo possível de Ordem gerada pelo caos (pelo giro aleatório das tômbolas da Caixa Econômica). Uma Ordem que no caso só o é aos olhos de um único indivíduo, mas que nem por isto deixa de ter para ele o mais transcendental dos significados. Produzir significados em padrões aleatórios é uma função obrigatória da mente humana, das sociedades humanas. Talvez seja a melhor receita para não bater de cara com o absurdo da existência.
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