terça-feira, 24 de março de 2009

0915) Os Rolling Stones (21.2.2006)



Acabo de ficar duas horas pregado na TV, vendo a transmissão do show dos Rolling Stones em Copacabana. Digo que vi a transmissão, não que vi o show. Um show de rock, por definição, só se vê em carne e osso, no local. Quem vê na TV não pode dizer que viu o show, assim como quem acompanha um terremoto pela TV não pode dizer que estava no terremoto. Os Stones são a maior banda de rock de todos os tempos, ponto final. Isso em nada desmerece as outras, assim como a existência de Pelé não desmerece os talentos de Ronaldinho Gaúcho, Platini ou Maradona. Os Stones têm, sobre seus concorrentes, a vantagem da precedência. São a única banda em atividade que não cresceu ouvindo os Stones.

Conheço bem a obra deles até a década de 1980, quando deixei de comprar-lhes os discos. Em 40 anos de atividade, até um vulcão abaixa o fogo de vez em quando. Jagger & Cia. fizeram muitos CDs desinspirados, embarcaram na egolatria e badalação das Décadas Frívolas. Virou moda dizer que os Beatles eram “bons meninos” e os Stones eram selvagens e contestadores. Ironicamente, hoje os Stones são comissão-de-frente no “establishment” da música pop, e Sir Mick Jagger continua a “podar” as letras das músicas quando quer aparecer na TV americana. Algum problema? Da minha parte, nenhum. É só para lembrar que rebeldia de milionário tem limites.

De qualquer modo, prefiro o rock milionário dos Stones a qualquer rock rebelde que seja mal composto, mal escrito e mal tocado. Como banda de rock, os Stones são um teto. Inúmeras bandas já igualaram a potência e a beleza de seu som, neste ou naquele show, neste ou naquele disco. Nenhuma os superou. Meus discos preferidos são todos do tempo em que Keith Richard não tinha rugas: Flowers, Beggar’s Banquet, Exile on Main Street, Sticky Fingers, Let it Bleed. Dos discos mais recentes, conheço pouco. Geralmente lembro a música (“Start me Up”, “Miss You”) mas não sei a que álbum pertence. Também gosto muito de álbuns menores que os críticos esnobam, como Between the Buttons e Their Satanic Majesties Request (que tem belezas como “She’s a Rainbow” e “2000 Light Years From Home”).

Como banda de rock, os Stones botam os Beatles no bolsinho de guardar moeda. Onde os Beatles deram o troco foi quando pararam de fazer turnês, trancaram-se no estúdio, e inventaram tanto a tecnologia quanto a estética da música pop contemporânea. Elogiei os Stones como banda de rock, mas é injustiça para com os autores de algumas das mais belas baladas pop de todos os tempos: “Lady Jane”, “As Tears Go By”, “Angie”, “Backstreet Girl”, “Wild Horses”, “Ruby Tuesday”; e de blues excruciantes ou debochados como “No Expectations”, “Sweet Virginia”, “The Spider and the Fly”... Já prestaram atenção em “High and Dry”, do álbum Aftermath, um forró completo, com sanfoninha e tudo? Pois é, os Stones, como Mick Jagger, ocupam todos os lugares ao mesmo tempo. Abrirei agora uma cerva gelada em sua homenagem. Vai?

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