domingo, 22 de março de 2009

0903) Os Construtores do Templo (7.2.2006)



A Maçonaria é tida como uma Sociedade Secreta, embora hoje seja descrita como uma sociedade civil com certas formalidades vedadas ao público em geral. (Descrição que poderia servir também para alguns conselhos de acionistas de Bancos, por exemplo) Como sociedade secreta, no entanto, ela não parece ter o mesmo charme romântico de outras como os Illuminati ou os Templários medievais, que têm rendido numerosas obras literárias, das quais o Código da Vinci é o exemplo mais recente. As únicas obras narrativas de que me lembro envolvendo a Maçonaria são a noveleta O Homem que Queria Ser Rei de Kipling (filmada por John Huston, com Sean Connery e Michael Caine como dois ingleses maçons que descobrem um reino perdido nos confins do Oriente) e A Flauta Mágica, ópera de Mozart, filme de Ingmar Bergman.

A estes, junta-se a “Trilogia do Templo” de Z. Rodrix, o camaleônico músico do “Som Imaginário”, do “Joelho de Porco” e do trio Sá, Rodrix & Guarabira, co-autor de “Anos 60”, “Casa no Campo”, “Mestre Jonas”, “Blue Riviera”... Canções que hoje me parecem tão antigas quanto o Templo de Salomão (e que talvez durem mais do que ele).

Johaben – Diário de um Construtor do Templo (Ed. Record, 2005) é o primeiro volume da trilogia, e conta os altos e baixos da vida de Johaben de Tiro, um garoto fenício que passa por uma montanha-russa de glórias e desgraças, em reviravoltas folhetinescas dignas do Conde de Monte Cristo ou do Rocambole. Mais importante do que as peripécias do enredo, contudo, é o lento e sofrido processo de aprendizado de Johaben, que de escravo nas pedreiras de Salomão passa a pedreiro e a construtor.

Ao que parece, foi durante a construção do Templo que certos rituais e preceitos da Maçonaria de hoje se cristalizaram. O “Diário” pode ser lido como um romance histórico (o autor disseca o ambiente histórico, geográfico e religioso da época, além das técnicas de mineração, construção, artes e ofícios), um épico bíblico, e também como um romance iniciático, porque mais importante do que a construção do Templo feito de pedra e de metais preciosos é a construção interior do “templo” da personalidade de Johaben, personagem instável, “capaz de horrores e de ações sublimes”. Neste sentido, há um notável paralelo entre a Engenharia Antiga e a Alquimia Medieval conforme vista por Jung. Todos aqueles infindáveis processos de refino e depuração dos metais para criar a “Pedra Filosofal” e transformar o chumbo em ouro eram (para Jung) um mero pretexto externo para desencadear a formação interna de uma personalidade baseada na observação da Natureza, na paciência, na ação, na determinação, naquela fórmula que os místicos medievais sintetizavam em: “Saber; poder; ousar; calar”.

É um livro de fluxo alternadamente narrativo e descritivo, repleto de informações curiosas. Embora não seja propriamente um romance fantástico, lembra a fantasia rigorosa de Ursula LeGuin ou Gene Wolfe.

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