quinta-feira, 5 de março de 2009

0861) O tri do São Paulo (20.12.2005)


(Mineiro, do São Paulo)

Fiquei com pena do Liverpool. Em primeiro lugar, por causa de Ringo e Paul, que devem ter acordado mais cedo, como eu, para ver a final do Mundial de Clubes, em Yokohama. Em segundo lugar, porque embora a vitória do São Paulo tenha tido méritos, foi o time inglês quem perseguiu o gol com mais tenacidade, mais dedicação, e um volume de jogo muito maior. O São Paulo tem um bom time com alguns jogadores de alto nível, mas o nível médio do time inglês é superior. Mas aí entrou em cena a mania européia de superioridade. O capitão inglês, o excelente Gerrard, disse na véspera que considerava o time deles “praticamente imbatível”. Pode até mesmo um capitão do Treze dizer isso, eu começo logo a torcer contra.

O jogo teve três tempos. O primeiro durou até o gol do São Paulo aos vinte e poucos minutos, e foi de uma pressão total do Liverpool, que abafava o time brasileiro e não permitia dois passes consecutivos. O São Paulo fez um gol rápido, com uma penetração arisca do volante Mineiro pela única brecha da defesa. Daí em diante, começou um segundo tempo em que o Liverpool afrouxou a marcação porque teve que “sair pro jogo”, o São Paulo ganhou gás, o jogo ficou parelho. O terceiro tempo foi a etapa complementar inteira: o Liverpool pressionando e o São Paulo se defendendo como podia. O time inglês teve três gols anulados (corretamente, eu acho, mas gostaria de rever o lance do terceiro); escrevo estas linhas ao meio-dia de domingo e ainda não fui no saite da ESPN para ver a choradeira. O nível do rio Mersey vai subir hoje uns dois ou três palmos.

No fim do jogo a TV mostrou uma estatística impressionante: 17 escanteios para o Liverpool, nenhum para o São Paulo. Isso mostra duas coisas. Primeiro, a pressão incessante dos ingleses em busca do gol. Segundo, a enorme competência da defesa brasileira em não levar o gol de cabeça, jogada que (por alguma razão freudiana) leva os ingleses a verdadeiros orgasmos futebolísticos. O São Paulo só deu dois chutes a gol no jogo inteiro, ambos na primeira etapa. Mereceu ganhar? Olha, eu acho que sim. O Liverpool finaliza pessimamente. Embora Rogério Ceni tenha feito três defesas brilhantes, a maior parte dos gols perdidos pelos ingleses foi por incompetência própria.

O lance-símbolo do jogo foi a falta que Gerrard cobrou no ângulo esquerdo e que Rogério espalmou para escanteio: de capitão para capitão, um duelo de talentos onde o sãopaulino ganhou por um tantinho assim. Foi um resultado mais que frustrante para o time inglês, que não perdia nem levava gol há onze jogos, que encurralou o adversário quase o jogo inteiro, mas não conseguiu marcar. O São Paulo teve uma vitória mais à moda italiana, digamos, do que à brasileira: fez um golzinho e suportou o bombardeio com galhardia até o fim. Mereceu ganhar: pela bravura, pela frieza, por não ter cometido erros fatais, por não fraquejar um instante sequer. Paciência, ingleses! Let it be.

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