São esses personagens tão lendários que às vezes eu desconfio que eu mesmo os inventei. Estou brincando, claro. Suas histórias povoaram minha infância e a de muitos outros em Campina. Acreditei nas histórias sobre Engole Trave e Seu Alegria como acreditei durante muito tempo na existência de Papai Noel, e continuo acreditando ainda hoje na existência de gente como o Rei Artur ou Zumbi dos Palmares. Lendas são lendas, e repeti-las gera o oxigênio que as mantém vivas na memória de todos.
Algumas lendas são apenas um nome cercado por uma nuvem de pressentimentos e sentidos ocultos. Quando eu era pequeno, por exemplo, havia duas figuras que eram uma ameaça permanente, dois personagens ominosos cuja mera menção fazia as crianças tremerem de terror e entrarem em casa mais cedo para tomar banho e jantar. Havia “João Cabeludo”, que era um bandido, e havia “Barba Rala”, que era um tarado. A gente não sabia a diferença entre uma coisa e outra, ou pelo menos quem não o sabia era eu, na minha inocência de marcelino-pão-e-vinho. Sabíamos apenas que havia um bandido e um tarado à solta na cidade, e ai de quem saísse do raio-de-ação protetor dos olhares da mãe.
Ameaça ainda pior era a do Papa-Figo. Muitas e muitas vezes desci do Babilônia até em casa, depois da sessão das 7, olhando para todos os lados, por saber que estava cruzando o território do Papa-Figo – que não era a Rua Miguel Couto, mas a Noite. Quando cresci e me dediquei a leituras criminológicas, fiquei sabendo que a mesma lenda existia, tintim por tintim, em dezenas de cidades. O Papa-Figo é um velho rico que sofre de lepra, e a quem recomendam comer o fígado cru de uma criança. Há uma lógica monstruosa nisto; o fígado tenro da criança pode ter propriedades regenerativas, etc. E um empregado do Papa-Figo sai com um saco às costas, caçando crianças para alimentar o patrão. O corpo da criança é achado no mato, dias depois, com o fígado extraído e – este é o detalhe mais cruel – algumas notas de dinheiro enfiadas no ferimento, em pagamento pelo órgão arrancado. Já escrevi um curta-metragem (dirigido por Cláudio Barroso) inspirado no relato que Gilberto Freyre faz desta história.
Outra lenda campinense é a do Castelo da Prata (que ainda existe, segundo fui informado). O dono começou a construí-lo mas sonhou que morreria se a construção acabasse; o Castelo ficou incompleto desde então. Nos anos 1960 estava abandonado, invadido por mendigos. Eu tocava nos Sebomatos, a melhor banda de rock da Paraíba (eu, Marcelo, Bolívar e Sérgio), e lá no Castelo fizemos algumas fotos de que ainda hoje tenho cópias. É uma lenda semelhante à da Mansão Winchester, em San Jose (Califórnia), que passou décadas sendo construída. É cheia de excentricidades arquitetônicas, porque a proprietária tinha medo de terminar a casa, que tem 160 aposentos, 47 lareiras, e pode ser admirada em: http://www.winchestermysteryhouse.com/tours.html.
Ouvi muito falar sobre o velho do saco,meu avô que viveu 93 anos dizia que era o Sr Belim, homem muito rico e imponente,que morava em uma mansão amarela. Quando meu avô era garoto,só saia acompanhado dos pais,pois, no período era comum encontrarem crianças sem o fígado e com muito dinheiro. Quando criança ficava imaginando aquela "Casa do arco" em Bodocongó como a mansão do Sr Belim,tinha um medo enorme,alguns anos depois fui trabalhar na Escola Técnica Redentorista e dava para vê ao longe e ficava admirando a mansão que estava em ruínas,sempre imaginado se seria a casa do velho do saco... Infelizmente ano passado foi demolido o patrimônio. Eu sinceramente não duvido do meu avô, e acredito que houveram esses fatos mesmo. Hoje estava lembrando dessa história e encontrei esse texto... Me veio boas lembranças do meu vô que partiu a 3 anos!
ResponderExcluirBelinho Figueiredo
ResponderExcluirNa verdade seu Belim era tarjado como PAPA FIGO e não o homem do saco. Inclusive está enterrado no cemitério do Monte Santo ,onde há uma foto sua e da pra perceber suas orelhas enormes e pontudas, cujo era falado na épocaa semelhança de um animal bizonho.
ResponderExcluirÀs terças-feiras, quando guri, eu ia com mamãe e meu irmão, para as novenas na Igreja de Bodocongó. Naquela época só existia a Escola Politécnica e a Faculdade de Economia, onde hoje é a UFCG. Sempre que passávamos em frente à Politécnica Mamãe mostrava a casa lá no alto e dizia que era a casa do Papa-Figo - seu Belin Figueiredo - e que pegava crianças para comer o fígado para curar a doença que causava o crescimento das orelhas. Eu olhava aquela casa lá longe, sombria, com medo e curiosidade pensando como seria ele? Se parecia com os monstros dos meus gibis de terror.
ResponderExcluirNunca o vi, mas já adulto, entrei na casa para ver como seria a vida do papa-figo. Fiquei maravilhado com o casarão!
Eu morava no Monte Santo e tinha muito medo da fazenda de sr Belim, que supostamente era onde tinham aqueles Campos entre o Monte Santo e a Federal.
ResponderExcluirEu queria mais teorias de algumas coisas de terror que vcs saibam de campina grande
ResponderExcluirAlguém sabe onde fica o túmulo dele?
ResponderExcluirTb queria saber
ExcluirCemitério do monte santo
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