(thegrumpyowl.wordpress.com)
Acompanhei minuto a minuto o recente anúncio do Cardeal Ratzinger como Papa Bento XVI, ou seja, desde a fumaça branca, a abertura das cortinas, o “Habemus Papam”, o surgimento do Pontífice, a bênção, os aplausos da multidão. Foi um momento emocionante, descontando-se o fato de que o espírito galhofeiro que me habita não pôde deixar de perceber que o novo Papa é a cara de Jorge Dória, aquele ator da Globo.
E me trouxe à mente um conto de ficção científica de Robert Silverberg, ganhador do Prêmio Nebula de 1970: “Good news from the Vatican”. É um conto curto onde um grupo de amigos, de vários países, está num café na Praça de São Pedro, esperando a fumaça branca. Com uma diferença: a expectativa é que nesse conclave seja eleito o primeiro Papa robô da História, representando a população de milhões de robôs que já existem em atividade no planeta. Diz o narrador: “O computador do Vaticano insistiu na candidatura do robô, e não devemos nos espantar diante desta solidariedade mecânica”.
Ele se pergunta: “Por que estou torcendo que o robô seja eleito? Será que é porque a imagem de uma criatura de metal sentada no Trono de São Pedro estimula minha imaginação e meu senso do incongruente?” A eleição é polêmica; entre o grupo de amigos alguns rejeitam totalmente a candidatura do robô, e outros a defendem. Um dos que defendem o cardeal-robô é um jovem rabino norte-americano, que afirma: “O cardeal foi o principal orador do Congresso Mundial Judaico no outono passado, em Beirute, e seu tema foi ‘Ecumenismo Cibernético Para o Homem Contemporâneo’. Posso afirmar que Sua Eminência é alto, distinto, com uma bela voz e um sorriso gentil. Há uma inerente melancolia em seus modos que me lembra muito nosso amigo bispo, aqui presente. Seus movimentos são graciosos, e ele é bastante espirituoso”.
A Igreja está dividida; os tradicionalistas preferem que seja eleito um cardeal humano, mas há pressão do outro lado. No aeroporto de Iowa, nos EUA, há uma delegação de 250 jovens robôs católicos que estão apenas esperando a eleição do cardeal para embarcarem rumo a Roma, exigindo a primeira audiência pública com o novo Papa. Na Praça, diz o narrador, “a luz do sol brilha em centenas, se não milhares, de crânios metálicos”.
E finalmente sobe a fumaça branca, as cortinas se abrem, e os cardeais anunciam que, como previsto, o cardeal robô foi eleito, escolhendo o nome de Sixto VII. O robô ativa os jatos de levitação embaixo de seus braços, que o elevam lentamente no ar, com pequenos jatos de fumaça branca, e profere sua bênção para a multidão, enquanto sobe cada vez mais alto, elevando-se nos céus até desaparecer.
O conto tem este final “em aberto”, sujeito a várias interpretações, mas o mais interessante é sua tese, exposta ao narrador pelo Bispo FitzPatrick, de que “cada época tem o Papa que merece, e que num dia futuro é de se querer que o Papa seja uma baleia, um automóvel, um gato, uma montanha”.
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