quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

0655) Lula e Frodo (24.4.2005)



Fico perplexo com muita coisa que vejo na Internet, mas o que mais me inquieta hoje são os ataques que circulam por aí, voltados contra o Presidente Lula. Crítica fazem parte da política, e o governo Lula tem uma série de equívocos que sem dúvida acabam com a paciência dos mais ansiosos. Mas, francamente, nunca vi tanta coisa de baixo nível contra o Presidente. Nem Fernando Collor, que me lembre, foi tão insultado. Quando Lula era apenas um sindicalista, depois um deputado, um candidato à presidência, era chamado de comunista, imbecil, paraíba, pau-de-arara, bronco, analfabeto, grosso, sem-dedo, pelego, e o mais que vocês imaginarem. Quem o chamava assim era a Direita e eram também aqueles setores neo-liberais, cosmopolitas, sofisticados, que raciocinam em dólar e que se pudessem fariam uma cirurgia no País para extirpar o Nordeste.

Pois bem, hoje em dia quem diz isso de Lula, e muito pior, são os seus ex-eleitores, decepcionados pelos rumos que o governo toma. Dizia o poeta que no Inferno não há fúria que se compare à de uma mulher desprezada. Pois digo eu que há, sim, é a fúria das “categorias” que apostam tudo na eleição de um governante, achando que daí em diante vão se dar bem, e de repente percebe que o sujeito depois de eleito “aliou-se ao outro lado”, e eles ficaram de fora da festa.

Eu tenho minhas críticas ao governo Lula, como por exemplo as minguadas verbas para a Cultura, e o fato de pagarmos fortunas em juros de uma dívida que já estávamos pagando antes mesmo de contraí-la. O Brasil vive hoje como aqueles trabalhadores braçais que vão derrubar mata lá no fim do mundo, e a cada mês se endividam cada vez mais “na caderneta da bodega”. Quanto mais ganham, mais estão devendo ao patrão. Pois é isso – em vez construir hospitais, escolas, consertar estradas (nem falo em abrir estradas novas), pagamos não sei quantos bilhões por causa do superávit primário. Transferimos todo nosso dinheiro para um dinossauro moribundo, um sistema financeiro internacional cuja quebra já está à vista. Eu daqui já sinto os tremores. Vai ser pior que a Queda da Bolsa de 1929 e o Tsunami da Malásia. E quando isso acontecer, de nada adianta “ter crédito internacional” com o dinossauro morto. Só vai suportar o choque inicial (que durará anos) quem estiver com sua infra-estrutura interna bem montada -- indústria, comércio, saúde, estradas, escolas e tudo o mais que estamos deixando de lado.

Coitado de Lula. Sonhou em fazer uma revolução pacífica, mas para fazê-la tinha que ir para Brasília. É como Frodo, no Senhor dos Anéis, que para destruir o Anel do Mal tem que ir justamente para dentro dos domínios do seu maior inimigo. Brasília é Mordor, e o Palácio do Planalto (ou o Congresso – há controvérsias) é a Montanha da Perdição. Lula ainda não destruiu o que foi lá para destruir. Pelo contrário: dá sinais de ter feito com Gollum um acordo em que cada um usa o anel um pouquinho, e depois devolve pro outro.

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