Alguns amigos se queixaram de que num artigo recente eu teria esnobado O Código Da Vinci, o best-seller do momento. Ledo engano, meus camaradinhas. Eu adoro este tipo de livro. Aliás, quando um dia publicarem minhas Obras Completas em papel-bíblia, os netos de vocês perceberão que passei muito mais tempo da minha vida defendendo a pulp-fiction americana do que analisando a obra de Guimarães Rosa, meu escritor preferido. Nosso mundo acadêmico vive a debruçar-se sobre o escritor mineiro, e torce o nariz para a ficção popular. Por uma questão de equilíbrio, prefiro estudar o que os outros não estudam.
Li o livro de Dan Brown, e não o achei um grande livro, comparado com outros do mesmo gênero, o thriller de mistério histórico. Gostei muito mais, por exemplo, de O Clube Dumas, de Arturo Pérez-Reverte, que além da história bem concebida tem uma prosa rica e agradável, cheia de surpresas. Já O Quadro Flamengo, do mesmo Reverte, é mais propenso ao clichê e à escrita superficial, embora seja um livro de leitura tão fluente quanto o Da Vinci. No mesmo gênero, gostei muitíssimo mais de O Pêndulo de Foucault de Umberto Eco (livro que muitos compraram, alguns leram e poucos gostaram). Por que? Porque sou manipulado pela crítica e acho genial tudo que Eco escreve? Nada disso, uma vez que jamais consegui passar da página 20 do intransponível A Ilha do Dia Anterior. A gente se identifica mais com uns livros, e menos com outros; isto é tudo.
O Pêndulo de Foucault me agradou porque, para além de suas aventuras inverossímeis e suas criptografias obscuras, era claramente um livro pessoal, como o era O Nome da Rosa. Ali há trechos de uma juventude nas cidadezinhas de uma Itália fascista, que parecem embebidos de verdade, de vida vivida, de um “saber só de experiências feito”. Estes trechos compensam as longas citações livrescas. No livro de Dan Brown, fica muito visível a colagem da pesquisa feita pelo autor, que a cada passo interrompe a narrativa para nos dizer o preço da construção de um prédio, ou a origem do nome de uma praça. Na pulp fiction, vê-se com nitidez o trecho que foi “cortado e colado” para dar a impressão de erudição. Não é algo que o autor sabe profundamente, é algo que ele copiou de um manual para impressionar um leitor menos informado do que ele.
Por que, então, eu perco meu tempo lendo estes livros? Resposta: gosto de mistério histórico, gosto de narrativas que exumam fatos do passado e criam teorias conspiratórias sobre eles, reinterpretando a História, a Arte, a Religião... Se o autor o faz com muito ou com pouco talento literário é algo que pesa durante a leitura, mas para mim é secundário. Não é o estilo literário que procuro nestes livros (embora seja um prazer encontrá-lo, como em O Nome da Rosa), é a viagem misteriosa, a decifração de códigos, a aventura de pensar que o mundo é misterioso e cheio de verdades que ninguém ousou desvendar.
Resumindo: bem-vindo ao clube dos que gostam das Teorias de Conspiração. Tem coisa melhor que as tais "viagens misteriosas"? Eu comparo esse tipo de livro aos mistérios de Agatha Christie; são livros que parecem validar a nossa curiosidade, dar-lhe sentido, e tornam a vida (a nossa e a alheia) mais interessante.
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