terça-feira, 26 de agosto de 2008

0524) Cirurgia contra virose (23.11.2004)


(a guerra em Falluja)

A ofensiva norte-americana contra a cidade de Falluja, no Iraque, foi mais um desses episódios de Absurdo Organizado típicos desta guerra. O método do governo Bush para combater o terrorismo equivale a tratar uma virose através de cirurgia: pegar um bisturi e sair arrancando todos os tecidos onde haja suspeita de localização de vírus. O Iraque foi invadido em março de 2003, o fim da guerra foi oficialmente anunciado no mês de maio seguinte, e agora, mais de um ano depois, estão acontecendo batalhas que deixam no chinelo as da guerra propriamente dita.

Fallujah é a cidade onde alguns seguranças americanos foram mortos meses atrás, arrastados para fora do carro, pendurados numa ponte, ensopados de gasolina e incendiados, enquanto a multidão agitava bandeiras e batia em latas velhas (v. “Os postais do linchamento”, 7 de abril). É um perigoso reduto de partidários de Saddam Hussein. Um oficial americano anunciou, depois do linchamento: “Vamos conquistar os corações e mentes em Fallujah, livrando a cidade dos insurgentes.” E é exatamente isso que o exército americano fez. Entraram lá e botaram a cidade abaixo. Fallujah é chamada a “cidade das mesquitas”, porque lá existem mais de duzentas. Não sei se restou alguma, depois que o exército de Bush passou a britadeira em tudo.

Quem quiser saber um pouco mais sobre a cidade, pode ver em: http://en.wikipedia.org/wiki/Fallujah . Fallujah tem cerca de 350 mil habitantes, ou seja, é uma cidade “do tope” de Campina. Uma estatística divulgada no New York Times diz que a operação de invasão da cidade está oficialmente encerrada, restando agora as tarefas de “limpeza” (extermínio dos últimos focos de resistência) e ocupação. Para tomar esta cidade de 350 mil habitantes, onde havia cerca de 10 mil combatentes inimigos, os americanos tiveram 51 mortos, 425 feridos, mataram cerca de 1.200 combatentes inimigos e fizeram 1.025 prisioneiros. Ou seja: eles botaram Campina Grande abaixo, fizeram mais da metade da população ir embora, e dos 10 mil combatentes que havia na cidade, eles se livraram de apenas 22%.

Isto é o que o governo Bush chama de “uma operação militar bem sucedida”, assim como houve quem considerasse bem-sucedido o massacre do Carandiru, porque os presos tiveram mais baixas do que a polícia paulista. A guerra que os americanos travam contra os iraquianos é ainda mais desproporcional do que a que travaram com os vietnamtias 30 anos atrás. Para cada americano morto, morrem 20 inimigos (sem contar os civis), e isto é contabilizado como um sucesso. Mas os EUA não param de despejar dinheiro e consultores militares no Afeganistão (invadido no fim de 2001), e ainda não controlam o país, que voltou a ser dominado pelos “barões da papoula” (os traficantes da matéria prima para fabricação da heroína). Che Guevara lançou um dia um grito de guerra: “Precisamos criar 10, 100, mil Vietnams!” George Bush parece decidido a realizar o seu plano.

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