Uma votação recente na Internet elegeu “Ob-La-Di, Ob-La-Da” como a pior canção gravada pelos Beatles. “Disconcordo”, como se diz por aí, mas é para isto mesmo que essas votações são feitas.
O que me surpreende não é a escolha desta divertida e irrelevante canção pseudo-jamaicana. É que eu sempre achei que “Revolution 9” seria eternamente a escolha mais óbvia para esse título (embora, na minha opinião, seja uma excelente faixa).
Por outro lado, acho que qualquer beatlemaníaco de bom-senso reconhecerá que os garotos gravaram uma porção de besteiras, no meio de várias dezenas de obras-primas. Que besteiras seriam essas?
A primeira que me vem sempre à cabeça é “Wild Honey Pie”, uma bobagem de McCartney com menos de um minuto (graças a Deus) que por motivos insondáveis mereceu ser uma das faixas do Álbum Branco. Segundo Ian MacDonald em Revolution in the Head (a melhor análise em livro das canções dos Beatles), foi uma brincadeira utilizando um recurso bolado por McCartney para a gravação de “Mother Nature´s Son”: a colocação da bateria no corredor do estúdio, para mudar a sonoridade. A música consiste apenas nas palavras “Honey Pie” esgoeladas ao fundo, com uma linha decrescente de guitarra, e... ah, chega.
Outra forte candidata é “Dig It”, aquela curtição que aparece em Let it Be: “Like the FBI... and the CIA... and the BBC... B. B. King…” São 50 segundos de “pura maluquice emaconhada”, como dizia um amigo meu. Sempre a escuto com prazer, porque me lembra uma época divertida de minha vida. Mas é o tipo da coisa que eu jamais colocaria num disco meu.
Aí chegamos a “You Know My Name (Look up the Number)”. Se você não é músico profissional, caro leitor, se nunca entrou num estúdio de gravação, e tem curiosidade de saber o que é que aqueles músicos tão talentosos fazem entre uma sessão de trabalho e outra, não precisa ir muito longe. Coloque o CD Let It Be e deleite-se com estes quatro minutos de pura bobagem. É o equivalente musical àquilo que os jogadores de futebol fazem no gramado antes do jogo começar: equilibrar a bola na nuca ou nas costas, fazer embaixadas, trocar passes de cabeça...
O próprio Ian MacDonald, um crítico severo, diz que “o resultado, graças ao senso de humor espontâneo da banda, é bastante engraçado”.
Os Beatles têm numerosos rockzinhos banais (“Little Child”, “What You´re Doing”, “Thank You Girl”...) mas que não são piores do que os rockzinhos análogos que eram feitos na época. Em seus primeiros discos, os piores momentos eram do mesmo nível do que se fazia na época; os melhores momentos eram rockzinhos inovadores como “A Hard Day´s Night”, “I Wanna Hold Your Hand” ou “She Loves You”.
Mas nos seus álbuns de fim de carreira, o caos econômico e emocional desse período os levou a chamar de canções um material de estúdio que somente um grau muito alto de egocentrismo e desorientação mental faria levar a público.
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