Para organizar o mundo, inventamos uma ficção poderosíssima (mas ficção, mesmo assim): a de que o Tempo é algo linear, constante, matematicamente divisível.
Relógios e calendários servem para domesticar nossa mente nesse sentido, fazendo-nos crer que é próprio da natureza do Tempo ser medido, e de que ele é de fato composto por tijolos grandes, que se dividem em tijolos menores, que por sua vez se subdividem em tijolinhos minúsculos, e assim por diante.
É um artifício intelectual; útil, mas limitado. Os conceitos de ano, mês, dia, segundo, etc. não são conceitos arbitrários, porque se referem a aspectos físicos que de fato existem; mas não são suficientes para descrever nossa relação com o Tempo.
Existe o Tempo do corpo e o Tempo da mente.
Relógios e calendários são nossa maneira de fazer a mente pensar de acordo com o Tempo do corpo, o Tempo do universo físico, onde a Terra, o Sol, as Estrelas e a Lua, que se movem em ciclos regulares, nos dão um ponto de partida, pontos de referência comuns a todas as pessoas.
Isto, contudo, é o Tempo externo, o Tempo do mundo, que pode ser medido com uma régua.
O Tempo da mente, o Tempo da nossa memória emocional e intuitiva, teria que ser medido com um pedaço de elástico, porque ele se estica ou se encolhe de acordo com a maior ou menor energia psíquica que aplicamos nele. Daí os “relógios moles” de Salvador Dali, uma das grandes sacadas da Arte para exprimir essa flexibilidade de nossa percepção.
Jorge Luís Borges admirava-se de ser capaz de recordar com nitidez um fato ocorrido há cinqüenta anos e não poder adivinhar o que sucederia no dia seguinte, “que estava muito mais próximo”.
Este pequeno paradoxo nos mostra a inutilidade de tentarmos sempre espacializar o Tempo, vê-lo como uma régua, uma escala linear onde nossa consciência se move sempre na mesma velocidade, na mesma direção, e na mesma ordem: 1, 2, 3, 4, 5...
Nosso Tempo mental é o contrário. Se estamos conversando com um amigo de infância, podemos passar cinco minutos conversando em tempo real, depois nos calamos por dez segundos enquanto avaliamos “de fora” um período de anos de nossa vida, e em seguida passamos cinco minutos rememorando momentos que, somados, ocupariam meses de tempo cronológico.
O Tempo mental se parece com esses websites onde imagens aumentam de tamanho ou se transformam em outras no momento em que passamos o mouse sobre elas. Quando alguma coisa nos evoca um fato emocionalmente relevante, ele cresce, invade nossa mente por inteiro, distorce o tempo real que nosso corpo está experimentando.
A evocação de um minuto traumático ou de intenso prazer pode se reiterar durante um dia inteiro, como um disco enganchado.
Em vez de vermos o Tempo como uma linha reta, com o Presente situado entre o Passado e o Futuro, poderíamos visualizá-lo como um cacho de bolhas de espuma em ordem não-cronológica, cada uma delas se expandindo ao ser tocada pela nossa consciência.
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