O escritor V. S. Naipaul, ganhador do Prêmio Nobel há poucos anos, afirmou numa entrevista recente que a guerra religiosa é uma realidade do mundo atual e que não se pode fugir a ela. Disse ele que alguns países promovem esse tipo de guerra, e que é necessário destruí-los. O repórter perguntou se ele se referia, por exemplo, à Arábia Saudita, e ele concordou. Perguntado sobre o Irã, concordou também. Perguntado sobre o Iraque, disse: “É bem claro que aquele não é um lugar onde deveriam ter ido.” Os comentaristas do saite “The Literary Saloon”, onde a entrevista é citada, dizem: “Vejam só, até um sujeito com esse tipo de visão acha que não foi uma boa idéia invadir o Iraque.”
Os norte-americanos já perderam mais de mil soldados no Iraque, a grande maioria deles depois que George W. Bush declarou em alto e bom som que a guerra tinha acabado. Explode um carro-bomba por dia em Bagdá, uma cidade um pouco menor que o Rio de Janeiro. E os alvos não são sequer os americanos: são os iraquianos acusados de colaborar com os invasores, alistando-se na polícia. Isto parece dar razão àqueles que dizem que Saddam Hussein era um cachorro-grande que mantinha intimidados os cachorros-pequenos. Os EUA o derrubaram, e agora não sabem o que fazer com tantos cachorros-pequenos à solta, mordendo-se uns aos outros.
Saddam se equilibrava no poder sabe Deus como. Eu nunca imaginei que caísse com tanta facilidade (nem eu nem ninguém). Depois do fim da guerra, vi no Canal GNT um especial antigo sobre o Iraque em que era entrevistado um iraquiano exilado, que ao que parece tinha trabalhado no Serviço de Informações americano. Perguntado como seria possível derrubar Saddam, ele dizia: “Não percam tempo. Invadam o país, e vão direto para Bagdá. Se os americanos entrarem em Bagdá, Saddam vem abaixo. Ele não tem sustentação popular.” Não deu outra.
O que aconteceu no Iraque se parece com o jogo Coréia x Portugal na Copa de 1966. Embalada por alguns bons resultados, a Coréia entrou em campo na ponta dos cascos e em poucos minutos estava ganhando de 3x0. Mas não tinha time para sustentar esse placar. Portugal, mais maduro, foi comendo pelas beiras e venceu o jogo por 5x3. Mal comparando, é o que os iraquianos de diferentes facções estão fazendo com os EUA, que ganharam a invasão mas estão perdendo a ocupação. Não há tropas suficientes, não há moral suficiente nas tropas disponíveis, não há um plano. Os americanos precisaram perder 55 mil soldados no Vietnam até se convencerem de que ficar lá não era uma boa idéia. O pior é reconhecer que, se perderem 20 ou 30 mil no Iraque e caírem fora (o que duvido), o país vai virar um ninho de cobras. Isto quer dizer que Saddam era uma coisa positiva? Não, amigos, isto quer dizer que o sentido da existência humana neste mundo é algo muito tênue, e quando tiros começam a ser disparados é bem possível que a lógica vá pro brejo e o absurdo, finalmente, prevaleça.
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