terça-feira, 22 de julho de 2008

0456) Estatísticas olímpicas (4.9.2004)



Um humorista disse certa vez que as estatísticas são como os biquínis: o que mostram é interessante, mas o que tentam esconder é mais interessante ainda. Todo cômputo estatístico obedece a critérios escolhidos por quem o organiza. Governos e oposições passam a vida inteira invertendo as estatísticas divulgadas pelos adversários, para mostrar que a situação é outra. E outro humorista disse que um estatístico é um cara para quem um sujeito com a cabeça num forno e os pés num “freezer” está, estatisticamente, em boa situação.

O Australian Bureau of Statistics, órgão do governo australiano, resolveu fazer uma estatística própria do quadro de medalhas olímpicas, que é organizado, como sabemos, em ordem decrescente do número de medalhas de ouro conquistadas. Os australianos estão animados com os Jogos Olímpicos, desde que os sediaram em Sidney-2000, conquistando um ótimo 4o. lugar. Agora, em Atenas, repetiram a colocação. Pois o pessoal do ABS propôs um critério: Que tal se a gente relacionasse o número de medalhas de ouro com o número de habitantes do país? Porque é claro que a China, com mais de um bilhão de pessoas, tem mais chances de produzir medalhistas do que Mônaco ou Andorra.

O saite onde estão estes cálculos tem um endereço quilométrico, que espero saia por inteiro aqui no jornal: http://abs.gov.au/Ausstats/abs@.nsf/57a31759b55dc970ca2568a1002477b6/be9f47591541e29eca256ef40004f25a!OpenDocument . Se não achar e quiser uma cópia, caro leitor, me mande um email. Porque nossos amigos austrais chegaram à conclusão de que o grande vencedor dos Jogos de Atenas não foram os EUA, e sim as Bahamas, que com pouco mais de 300 mil habitantes faturaram um ouro e um bronze. Em segundo lugar vem a Noruega, que com 4 milhões e meio de pessoas ganhou 5 ouros e 1 bronze. Em terceiro aparece (adivinhem!) a Austrália, que com uma população de 20 milhões ganhou este ano 17 ouros, 16 pratas e 16 bronzes.

É um conceito interessante, concorda? Eu acho que tem uma certa lógica, mesmo constatando que por este cálculo o Brasil cai de 18o. para 55o. lugar. O que me consola é ver a queda dos três primeiros colocados no ranking oficial: os EUA despencam de 1o. para 34o., a China de 2o. para 53o. e a Rússia de 3o. para 22o.

Tiro disto duas lições. A primeira é que por mais que uma conquista esportiva seja um valor em si, é sempre útil vê-la no contexto econômico e social da disputa. (Penso nisto sempre que vejo o São Caetano no campeonato brasileiro) A segunda é que a arte da estatística consiste em pegar um quadro de número frios, objetivos, organizados em fileiras e colunas... e observá-lo de todos os ângulos possíveis, até encontrar um que mostre aquilo que queremos ver. Que tal se a gente organizasse o quadro olímpico em função da renda per capita? Ou da quantidade de associações esportivas e atléticas? Ou do total de verbas investidas pelo governo? Quem sabe a gente não melhoraria esse 18o. lugar?

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