(Ilustração: Erik Desmazieres)
Há cerca de 15 anos, boa parte do meu tempo livre era passado na Biblioteca Nacional, aqui no Rio, vasculhando os fichários à procura de livros obscuros de ficção científica, e de novelas fantásticas escritas por autores brasileiros. Um resultado disto foi o Catálogo editado em 1992 pela própria Biblioteca, onde registrei mais de 130 dessas obras (número que de lá para cá aumentou muito). Outro resultado foi a antologia Páginas de Sombra – contos fantásticos brasileiros, que publiquei em 2003.
Uma das minhas descobertas mais interessantes foi São Paulo no anno 2000, ou Regeneração Universal – Chronica da Sociedade Brasileira futura (São Paulo: Typ. Brazi de Rothschild, 1909), romance utópico descrevendo a metrópole paulista nesse remotíssimo futuro. Durante anos pensei em escrever um pequeno ensaio a seu respeito, mas sempre me deparei com a absoluta falta de informações sobre o autor, de quem eu sabia apenas que se chamava Godofredo E. Barnsley. Mesmo depois da Internet, de nada me adiantou passar pente-fino no Google; surgiam centenas de Barnsleys, mas não este.
O problema foi resolvido com a visita recente ao Rio da “brazilianist” M. Elizabeth Ginway, professora da Universidade da Flórida e autora de Brazilian Science Fiction: Cultural Myths and Nationhood in the Land of the Future (Lewisburg: Bucknell University Press, 2004). Ela conseguiu localizar um neto do autor, que mora nos EUA. Através dele ficamos sabendo que Godofredo Emerson Barnsley era filho de um ex-soldado Confederado que, como muitos outros sulistas, migrou para o Brasil após a derrota na Guerra da Secessão. Godofredo nasceu em Quartis (SP) em 1874, e faleceu em São Paulo em 1935. Na juventude, chegou a morar por alguns anos nos EUA, mas voltou ao Brasil, e estabeleceu-se como dentista em Campinas (SP), tendo sido considerado um dos melhores dentistas paulistanos. Foi também professor da Faculdade de Odontologia na USP.
Seu livro é uma curiosa experiência em literatura utópica. O Narrador adormece numa praça no centro de São Paulo, e quando acorda vê-se numa metrópole desconhecida. Só depois descobre que havia dormido durante 100 anos. Começa a conhecer a cidade, guiado por um ancião chamado Orecnis Ocitirc, um “crítico sincero” do mundo em que vive. Em vez dos 320 mil habitantes de que o Narrador se recorda, São Paulo tem agora um milhão e meio. O livro enumera – usando as costumeiras e entediantes descrições de toda narrativa utópica – as conquistas no campo da educação, saúde, transportes, etc. São Paulo no Anno 2000 (ao qual retornarei amanhã) é um “romance prescritivo”, sem altos vôos literários, voltado para o objetivo maior dos livros desse tipo: criticar o mundo do presente, apontando soluções que deveriam ser adotadas no futuro. Gênero largamente cultivado na Europa e nos EUA, teve poucos exemplos no Brasil, o que torna ainda mais importante a sua existência, independentemente de sua qualidade artística.
Sou neto de Godofredo Emerson Barnsley, paulista de nascimento, em 1936, recebi um emal hoje de meu irmão Godfrey Barnsley, tambem paulista, mas que mora nos EEUU ja a alguns anos,onde trocou de mome , adotou , o do avÕ;; dizendo que meu avô tinha escrito um livro, "São Paulo no Ano 2000", nunca soube disto até hoje, e ,curioso, entrei no Goolge , para pesquisar e , surpresa minha entrou logo esta narrativa.
ResponderExcluirMinha mãe e sua irmã são filhas dele, tenho primas que moram em S.Paulo, minha familia se mudou para no Rio de Janeiro em 1945, estou co 82 anos de idade, e meu irmão 84