Quando entro numa livraria, chega sinto um aperto no coração diante de tanta coisa boa que tem. Nunca os livros brasileiros foram tão bons, tão bem apresentados, tão bonitos e agradáveis de manusear (a Companhia das Letras foi uma editora que ajudou muito a subir este nível). Por outro lado... o livro anda muito caro. Nas livrarias do Rio, o que tem de livro por 35 ou 40 reais não é brincadeira, e não me refiro a livros em papel cuchê com ilustrações coloridas, é o livro comum mesmo, com 200 ou 300 páginas.
No Brasil, aumenta sem parar o número de editoras e o número de títulos lançados. Mas não aumenta o número de leitores, nem o de livrarias, nem o de bibliotecas. O que temos é livros cada vez melhores e mais caros, destinados a um público consumidor que é sempre o mesmo: uma elite minoritária, esclarecida, gente que tem dinheiro no bolso, que ama os livros, e que não faz questão de pagar mais caro por um livro cuja importância é capaz de reconhecer. Há dez anos, uma pessoa nessa faixa de consumo podia escolher todo mês (suponhamos) entre 10 e 20 novos títulos para decidir o que comprar. Hoje, essa mesma pessoa tem 30 ou 40 títulos para escolher.
O problema é que tantos novos livros e tantas novas editoras brigam ferozmente pelo mesmo público, um público que não cresce. Não é nem uma questão de preço, porque álbuns de luxo são um produto com vendagem garantida no Brasil. (É um pouco como no mercado imobiliário, onde os corretores dizem: “A coisa mais difícil hoje em dia é vender um quarto-e-sala, porque a população do quarto-e-sala não tem dinheiro. Mas apartamento com 4 suítes, quantos a gente oferecer a gente vende – tem gente comprando um pro filho, um pra nora, um pro neto, um pra alugar...” Isto é Brasil.) O problema é que mesmo quem pode comprar livros sem perguntar o preço só compra uma quantidade limitada, ou porque não tem tempo de ler, ou porque não quer abarrotar a casa. Não adianta aumentar a oferta: há um limite para a possibilidade de compra.
A solução é expandir o mercado – vender livros a outras pessoas, fora dessa elite. Mas como, se está todo mundo liso? Desde que me entendo de gente há tentativas de fazer livros populares. Os livros de bolso das Edições de Ouro estão aí até hoje, mas no meio do caminho tombaram coleções importantes como a “Catavento” da antiga Editora Globo (Porto Alegre), a BUP (Biblioteca Universal Popular) da Civilização Brasileira, o “Jornalivro” que nos anos 1970 era vendido em bancas, as numerosas coleções mirins com que a Brasiliense sacudiu o mercado nos anos 1980. Hoje temos coleções de livros de bolso voltadas principalmente para os clássicos da literatura (livros que são de domínio público) como a da Martin Claret, ou de clássicos contemporâneos que já foram tão reeditados que podem negociar direitos mais baratos, como nos livrinhos da L&PM vendidos nos aeroportos. Mas tudo ainda muito longe do poder aquisitivo do grosso da classe média.
Pois é, situação triste mesmo essa nossa.
ResponderExcluirOs pocket books da Martin Claret, da L&PM e de outras editoras que estão entrando no promissor mercado, são um primeiro passo. Mas ainda distante de uma massificação da leitura. Afinal, um dos fininhos custa cerca de 10 reais e dos grossos cerca de 20. Não é assim tão acessível ainda.
Todavia, tenho adquirido alguns desses exemplares, para conhecer sobretudo os clássicos sem precisar gastar muito.
É por isso que as feirinhas do livro (como temos aqui no Rio) e os sebos florescem. O pessoal quer ler, só não tem é grana.
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