Dizem os detratores de Campina Grande que nós, campinagrandenses, somos mentirosos incorrigíveis. É uma calúnia. O que ocorre é que cultivamos o saudável hábito intelectual de ter opiniões próprias a respeito de tudo, o que inclui a criação de versões próprias sobre os fatos.
O mundo visto do alto da Serra da Borborema é meio diferente. Historiadores ortodoxos como Gibbons ou Spengler revisariam muita coisa que escreveram, se ganhassem uma bolsa para trabalhar um ano no campus de Bodocongó.
Uma história que sempre me perseguiu foi a lenda urbana, contada e recontada no Calçadão, no abrigo da Praça da Bandeira, ou nas mesas do Caldo de Peixe, de que durante o “boom” do algodão de Campina Grande, entre as décadas de 1930-1940, Campina e Liverpool eram cidades rivais no comércio algodoeiro, sendo Liverpool o primeiro centro exportador e Campina o segundo.
Isto começou um dia a me deixar com a pulga atrás da orelha. Liverpool, centro exportador de algodão? Onde diabo se plantava tanto algodão na Inglaterra? Todos os rocks e blues que eu conhecia falando em “cotton fields” eram americanos, não ingleses. Tinha alguma coisa de errada nessa história, e não adiantava consultar Gibbons nem Spengler.
Tempos atrás eu estava conversando com Bolívar Vieira, meu antigo companheiro na banda Os Sebomatos. Como bom beatlemaníaco, Bolívar, depois de se formar em Antropologia na UFPb, foi fazer pós-graduação em Liverpool. Interrogado, dissipou minhas dúvidas.
Na verdade, Campina era, sim, um grande centro exportador do algodão do Cariri (algodão forte, de fibra longa, muito valorizado). Esse algodão não saía pela Paraíba, saía pelo porto do Recife, direto para o porto de Liverpool, que era um porto recebedor (e não exportador). De Liverpool era remetido para as indústrias têxteis de Manchester.
O comércio era feito, na verdade, entre o Cariri paraibano (produtor de algodão) e as indústrias de Manchester (produtoras de tecidos), através da cadeia Campina-Recife-Liverpool.
Nos capítulos 5 e 6 do seu livro Guerreiro Togado, Pedro Nunes Filho mostra a origem dessa cadeia comercial:
O mundo visto do alto da Serra da Borborema é meio diferente. Historiadores ortodoxos como Gibbons ou Spengler revisariam muita coisa que escreveram, se ganhassem uma bolsa para trabalhar um ano no campus de Bodocongó.
Uma história que sempre me perseguiu foi a lenda urbana, contada e recontada no Calçadão, no abrigo da Praça da Bandeira, ou nas mesas do Caldo de Peixe, de que durante o “boom” do algodão de Campina Grande, entre as décadas de 1930-1940, Campina e Liverpool eram cidades rivais no comércio algodoeiro, sendo Liverpool o primeiro centro exportador e Campina o segundo.
Isto começou um dia a me deixar com a pulga atrás da orelha. Liverpool, centro exportador de algodão? Onde diabo se plantava tanto algodão na Inglaterra? Todos os rocks e blues que eu conhecia falando em “cotton fields” eram americanos, não ingleses. Tinha alguma coisa de errada nessa história, e não adiantava consultar Gibbons nem Spengler.
Tempos atrás eu estava conversando com Bolívar Vieira, meu antigo companheiro na banda Os Sebomatos. Como bom beatlemaníaco, Bolívar, depois de se formar em Antropologia na UFPb, foi fazer pós-graduação em Liverpool. Interrogado, dissipou minhas dúvidas.
Na verdade, Campina era, sim, um grande centro exportador do algodão do Cariri (algodão forte, de fibra longa, muito valorizado). Esse algodão não saía pela Paraíba, saía pelo porto do Recife, direto para o porto de Liverpool, que era um porto recebedor (e não exportador). De Liverpool era remetido para as indústrias têxteis de Manchester.
O comércio era feito, na verdade, entre o Cariri paraibano (produtor de algodão) e as indústrias de Manchester (produtoras de tecidos), através da cadeia Campina-Recife-Liverpool.
Nos capítulos 5 e 6 do seu livro Guerreiro Togado, Pedro Nunes Filho mostra a origem dessa cadeia comercial:
“Com o recrudescimento da Guerra da Secessão, a produção algodoeira dos Estados Unidos despencou. (...) A Inglaterra foi o único país europeu que se interessou em desenvolver a produção algodoeira no Brasil. O algodão transformou-se num gênero tão indispensável àquele país, como o próprio pão. (...) A Associação de Manchester passou a empenhar-se pela universalização da cultura algodoeira em todos os lugares onde a terra e o clima fossem adequados.”
Liverpool tornou-se o centro alimentador de Manchester após a construção da ferrovia entre as duas cidades em 1830, quando os tecidos representavam mais da metade do valor das exportações britânicas.
A conexão Campina-Liverpool era na verdade uma conexão Cariri-Manchester, que certamente teve profundas repercussões na história do rock britânico, assunto que abordarei em breve.
Braulio, como sempre, brilhante!
ResponderExcluirEm 2006, descobri que o pai de Paul McCartney trabalhava para uma dessas empresas que comercializam algodão.
Coluna excelente!
ResponderExcluir
ResponderExcluirCampina Grande tem um quê
que não não o quê
de não sei o quê
tal não sei o quê.
Que me faz adorar Campina Grande
que me faz feliz
Campina Grande
Não sei Por quê?
Bráulio Tavares é memória viva de Campina Grande!
ResponderExcluirHistoriador de primeira grandeza!!!