Alguém deveria criar uma coleção chamada “História das Editoras Brasileiras”. Cada volume contaria a história de uma das numerosas editoras que criaram não só o nosso mercado livreiro, mas também a nossa própria literatura. Nada mais justo. Escreve-se tanto sobre meros escritores! Nada mais justo do que registrar para a História a atividade humilde e subterrânea daquela meia-dúzia de sujeitos idealistas que enfiaram a mão no bolso e custearam a publicação de prosadores desconhecidos e poetas anônimos, fazendo com que hoje sejam adotados nos vestibulares e tenham estátua em praça pública.
Uma editora pela qual tenho uma curiosidade especial é a Editora Vecchi, fonte inesgotável de livros de aventuras na minha infância. Ficava à Rua do Resende, no 144, no Rio de Janeiro, e entre as décadas de 1950-1960 produziu dezenas de títulos que, a julgar pelas reedições, vendiam como água. Seu carro-chefe, pelo menos do meu ponto de vista, era a coleção dos romances policiais de Arsène Lupin, escritos por Maurice Leblanc, livros que lá em casa eram lidos com entusiasmo pela família toda. É possível que o sucesso de Lupin tenha sido suplantado pelo da coleção “Os Maiores Êxitos da Tela”, com as obras originais de filmes de sucesso: O corcunda de Notre Dame com Gina Lollobrigida na capa, Anastácia com Ingrid Bergman e Yul Brynner, Sissi com Horst Bucholz e Romy Schneider, além de A Dama das Camélias, Manon Lescaut e o Joana D´Arc de Jules Michelet.
Curiosamente, aos 10 anos nunca me interessei pela coleção “Os Mais Belos Romances de Amor”, que não obstante trazia títulos de George Sand, Ibsen, Alexandre Dumas. Minhas atenções estavam totalmente voltadas para a coleção “Os Audazes”, de romances de aventuras, onde li pela primeira vez Rafael Sabatini (O Cisne Negro) e Mark Twain (As aventuras de Huck), além das vidas de Robin Hood e Buffalo Bill. As antologias da Vecchi também eram excelentes. Ainda hoje tenho exemplares de Os Mais Belos Contos Policiais, Os Mais Belos Contos Alucinantes e dos dois Os Mais Belos Contos Terroríficos – e admito que meu conceito pessoal de beleza foi muito influenciado por títulos deste jaez.
Uma das melhores coisas da Vecchi eram as suas “artísticas sobrecapas em cores, do pintor Nils”. No melhor estilo das capas dos “pulp magazines” americanos, Nils preenchia a capa inteira com ilustrações em cores berrantes, cheias de movimento, com vários rostos e grupos de pessoas em planos superpostos, num estilo celebrizado depois pelo ilustrador Benício. A capa do livro parecia um poster de filme, e era cortada por frases como “Eletrizante aventura de Arsène Lupin”. A Vecchi marcou um período de transição da literatura de massas no Brasil, quando as novelas de entretenimento para consumo popular começaram a migrar das revistas mensais ou quinzenais, e a invadir o espaço nobre dos livros. É uma história fascinante, que merece e precisa ser contada.
Caramba, Braulio! Quem sabera' sobre o Nils? Nao ha' nada na internet sobre ele...
ResponderExcluirEgeu
Cibele: As aventuras de Lupin saíram pela Editora Vecchi nos anos 1950-60, e depois pela Nova Fronteira (praticamente todos os títulos) nos anos 1970. Faça uma busca por "Maurice Leblanc" no portal de sebos Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br) e você acha quase tudo.
ResponderExcluirFazia-me a cabeça tb nessas priscas eras a coleção Terramarear com suas listas azuis e brancas na contracapa. Melhoramentos? acho que sim...
ResponderExcluirO pony express do Búfalo Bill, caninos Brancos, Ilha do Tesouro , Mowgli, Tarzan, O Lobo do mar ... Caramba, que horta da Luzia!
VAleu a lembrança
PS Vc tinha aqui um post sobre uns trabalhos do Tom Philips. Procurei outro dia pra mandar prum amigo e não achei mais. Foi retirado?
Eu acho que a Terramarear era da Companhia Editora Nacional... Tive muitos livros dela, também.
ResponderExcluirA postagem sobre Tom Philips é de março de 2008 ("Um documento humano"). A "Busca" do blogspot anda meio desorientada, às vezes deixa de achar coisas que de fato estão aqui.
ResponderExcluirAlguém precisa encontrar alguma pista sobre o ilustrador NILS das capas do Arsène Lupin.
ResponderExcluirDeve ser Nilson....help!!!!
Super curioso.