segunda-feira, 10 de março de 2008

0194) Escrito nas estrelas (2.11.2003)





Certa vez, quando eu participava do “Encontro Para a Nova Consciência”, em Campina, me perguntaram o que eu achava da Astrologia. Respondi: “Astrologia é a ciência de ganhar dinheiro dando conselhos aos astros e estrelas da televisão.” Esta singela definição provocou algumas chuvas e trovoadas, mas não abalou a amizade que mantenho com vários astrólogos. Eles sabem que eu sou cético mesmo, e que não abro nem prum trem. Se eu duvido até do que dizem os astrônomos, por que iria acreditar nos astrólogos? Não obstante, cada um acredita no que lhe convém, e as coisas em que acreditamos são tão relativas quanto a importância dos times de futebol por que torcemos.

Mesmo assim, um dos meus passatempos favoritos é bancar o advogado do diabo, e quando estou tomando chope no meio de uma turma e alguém diz que não acredita em Astrologia, eu faço cara de inocente e pergunto: “Qual é teu signo?” Geralmente a pessoa responde em cima da bucha. Faço cara de desinformado e pergunto quais são as características do signo, e a resposta é sempre do tipo: “Bom, eles dizem que o geminiano é dividido em polos opostos, que é capaz de atitudes extremas e contraditórias...” Ou seja, ele não acredita, mas se tiver uma prova oral ele passa com louvor. Por que isto? Porque a Astrologia está entranhada em nossa cultura, se infiltra por todas as brechas, aparece no rádio, no jornal, na TV, nas revistas, nas livrarias. Não há quem fuja.

A premissa básica da Astrologia é, para mim, completamente furada: a de que a posição dos planetas e estrelas no céu, no momento do nascimento, cria uma rede interligada de forças cósmicas que influencia nosso temperamento. Não é apenas “o signo”, único critério adotado nos horóscopos de jornal (que os próprios astrólogos reconhecem ser furados): é o ascendente, é a posição da Lua, de Marte, é o “Saturno da 5ª casa”, e assim por diante. Uma álgebra com uma dúzia de incógnitas, e talvez venha daí a atração que faz muita gente acreditar nela. Existe uma aparência de ordem naquela beleza toda, existem tabelas astronômicas que informam ou predizem a posição dos astros. A composição de mapas astrológicos é uma forma de arte autônoma, que mistura partes iguais de geometria, simbologia icônica, projeções matemáticas e intuição psicológica. É algo tão bonito que o camarada acaba acreditando que é verdadeiro.

O que eu acredito é que existem tipos recorrentes de pessoas. Não sei dar nome a esses tipos, mas frequentemente penso: “Ah, já sei, Fulano é igualzinho a Beltrano e Sicrano: age de tal e tal maneira.” Os adeptos do candomblé atribuem esses tipos à influência de orixás específicos. C. G. Jung criou uma tabela de “tipos psicológicos” baseado em suas sessões de análise. Atribuir a existência deles à harmonia gravitacional dos astros não é, para mim, uma atitude científica, mas uma atitude poética. Se não é científico, então não tem base factual; mas se é poético é verdadeiro. Tá bom assim?

Um comentário:

  1. Tá bom assim, tá ótimo. Mas eu, Peixes com ascendente Peixes e, portanto, duplamente tendendo aos exoterismos todos, ainda tenho uma dúvida Tostines em relação às tais características dos signos: realmente nos identificamos quando as lemos, ou lemos procurando fixar apenas o que achamos que parece conosco?

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