Certa vez, quando eu participava do “Encontro Para a Nova Consciência”, em Campina, me perguntaram o que eu achava da Astrologia. Respondi: “Astrologia é a ciência de ganhar dinheiro dando conselhos aos astros e estrelas da televisão.” Esta singela definição provocou algumas chuvas e trovoadas, mas não abalou a amizade que mantenho com vários astrólogos. Eles sabem que eu sou cético mesmo, e que não abro nem prum trem. Se eu duvido até do que dizem os astrônomos, por que iria acreditar nos astrólogos? Não obstante, cada um acredita no que lhe convém, e as coisas em que acreditamos são tão relativas quanto a importância dos times de futebol por que torcemos.
Mesmo assim, um dos meus passatempos favoritos é bancar o advogado do diabo, e quando estou tomando chope no meio de uma turma e alguém diz que não acredita em Astrologia, eu faço cara de inocente e pergunto: “Qual é teu signo?” Geralmente a pessoa responde em cima da bucha. Faço cara de desinformado e pergunto quais são as características do signo, e a resposta é sempre do tipo: “Bom, eles dizem que o geminiano é dividido em polos opostos, que é capaz de atitudes extremas e contraditórias...” Ou seja, ele não acredita, mas se tiver uma prova oral ele passa com louvor. Por que isto? Porque a Astrologia está entranhada em nossa cultura, se infiltra por todas as brechas, aparece no rádio, no jornal, na TV, nas revistas, nas livrarias. Não há quem fuja.
A premissa básica da Astrologia é, para mim, completamente furada: a de que a posição dos planetas e estrelas no céu, no momento do nascimento, cria uma rede interligada de forças cósmicas que influencia nosso temperamento. Não é apenas “o signo”, único critério adotado nos horóscopos de jornal (que os próprios astrólogos reconhecem ser furados): é o ascendente, é a posição da Lua, de Marte, é o “Saturno da 5ª casa”, e assim por diante. Uma álgebra com uma dúzia de incógnitas, e talvez venha daí a atração que faz muita gente acreditar nela. Existe uma aparência de ordem naquela beleza toda, existem tabelas astronômicas que informam ou predizem a posição dos astros. A composição de mapas astrológicos é uma forma de arte autônoma, que mistura partes iguais de geometria, simbologia icônica, projeções matemáticas e intuição psicológica. É algo tão bonito que o camarada acaba acreditando que é verdadeiro.
O que eu acredito é que existem tipos recorrentes de pessoas. Não sei dar nome a esses tipos, mas frequentemente penso: “Ah, já sei, Fulano é igualzinho a Beltrano e Sicrano: age de tal e tal maneira.” Os adeptos do candomblé atribuem esses tipos à influência de orixás específicos. C. G. Jung criou uma tabela de “tipos psicológicos” baseado em suas sessões de análise. Atribuir a existência deles à harmonia gravitacional dos astros não é, para mim, uma atitude científica, mas uma atitude poética. Se não é científico, então não tem base factual; mas se é poético é verdadeiro. Tá bom assim?
Tá bom assim, tá ótimo. Mas eu, Peixes com ascendente Peixes e, portanto, duplamente tendendo aos exoterismos todos, ainda tenho uma dúvida Tostines em relação às tais características dos signos: realmente nos identificamos quando as lemos, ou lemos procurando fixar apenas o que achamos que parece conosco?
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