Campo probabilístico é um conceito científico, mas como não sou cientista, costumo usá-lo literariamente, de modo intuitivo, sem o rigor e a exatidão que se pede à ciência. Sabemos que certas coisas ocorrem com mais facilidade em certas circunstâncias, e com maior dificuldade em circunstâncias diferentes. Uma moça sabe que é mais fácil arranjar um namorado ficando debruçada à janela (eita, como eu sou antigo) do que trancada no quarto. E sabe que se fôr a uma festa... aí as probabilidades namorísticas são elevadas ao quadrado. Quando um nordestino pega um pau-de-arara em Santana dos Garrotes e vai para São Paulo em busca de trabalho, está reconhecendo intuitivamente que o campo probabilístico de São Paulo, em matéria de oportunidades de emprego, é mais intenso do que o de Santana dos Garrotes.
O campo probabilístico é como o campo gravitacional. Um meteorito pode ficar séculos vagando pelo espaço, até passar perto do campo gravitacional de um planeta e ser atraído por ele. A Física tradicional dizia que o planeta atraía o meteorito. A Física einsteiniana refinou este conceito, dizendo que a massa física do planeta distorce o espaço à sua volta, afundando-o, e faz com que o meteorito role em sua direção. É como se esticássemos uma rede elástica das que se usam sob os trapézios nos circos, e colocássemos sobre ela uma bola de ferro. A superfície da rede é distorcida pelo peso da bola, e objetos jogados perto dela acabam rolando de encontro ao peso maior.
Mesmo assim é o campo probabilístico. No futebol, a grande área é um campo probabilístico de gol muito mais intenso do que o resto do campo, embora teoricamente um gol possa ser marcado de qualquer lugar. Mas dentro da área predomina o chamado “perigo de gol”, ou seja, uma intensificação deste campo de probabilidades. Muitos turistas são assaltados porque desconhecem as variações de campo probabilístico de perigo na cidade onde estão passeando. Um morador da cidade sabe intuitivamente onde pode e onde não pode “acontecer alguma coisa”.
O sucesso, em qualquer atividade, intensifica o campo probabilístico de uma pessoa, para coisas boas e para coisas ruins. Todo mundo quer ter algum tipo de contato com o Sujeito Famoso. Pedidos de entrevistas, convites para festas, propostas de trabalho, tietagem, bajulação, trambiques, atentados... tudo parece chover do céu. O telefone não pára, a correspondência se agiganta, os compromissos se multiplicam. Ele atrai o interesse dos outros, atrai a curiosidade, atrai a atenção alheia como um ímã atrai limalha de ferro. O peso do seu sucesso deformou o campo social à sua volta, e agora tudo parece rolar na sua direção. Não depende mais de sua vontade. Depois de posto em funcionamento, o mecanismo probabilístico do sucesso é mais difícil de frear do que um transatlântico. Como diziam os Novos Baianos, “caia na estrada, e perigas ver”.
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