sexta-feira, 7 de março de 2008

0018) Lugares abandonados (12.4.2003)




(foto: Henk von Rensbergen)


Há muita gente que, como eu, tem fascinação por lugares abandonados, prédios desertados pelos seus habitantes, ruínas sem valor histórico ou arqueológico – são meras ruínas, enormes construções de cimento agora entregues à chuva, ao sol e ao matagal. Há uma atmosfera ameaçadora nestes lugares, um presságio. Uma ausência por trás da qual parece se esconder alguma Presença.

O saite belga http://www.abandoned-places.com/ reúne várias séries de fotos feitas pelo piloto comercial Henk van Rensbergen em suas viagens pelo mundo. Toda vez que ele tem algumas horas de folga numa cidade, informa-se sobre algum lugar abandonado e vai fotografá-lo. Em geral são fábricas que faliram, hospitais e hotéis que fecharam, prédios administrativos desativados. Estão agora cercados por tapumes, invadidos pelo mato e pelo mofo, às vezes habitados por mendigos ou delinquentes. Rensbergen sempre dá um jeito de entrar e fotografar.

Lugares abandonados nos dizem o quanto tudo na vida é passageiro, etc. e tal, mas há algo de crítica social também: vejam só, muitos desses prédios são celebrações do poder econômico, olha aí no que deu, bem feito. Mas o mais inquietante, e que só se pode perceber através de fotos como estas, é que os edifícios em ruínas são mais belos do que provavelmente foram quando estavam vivos, cheios de gente, de luz, de ruídos. Se um terreno baldio é um prédio que não existe, e um prédio em funcionamento é um prédio que existe, e só, um prédio abandonado é algo que existe e ao mesmo tempo não existe mais. Essa indefinição de natureza, ou superposição de naturezas, o transforma num objeto estético.

As fotos do piloto belga mostra casarões postos abaixo pelos cupins; hotéis cujas escadarias monumentais foram ocupadas por ervas daninhas; fábricas ou refinarias bem conservadas, onde parece que alguém apenas estalou os dedos e evaporou todos os operários. Estruturas inorgânicas, de pedra ou de aço, que foram feitas para durar séculos, lutam contra estruturas orgânicas - colônias de insetos que duram bem pouquinho mas se reproduzem sem parar, e plantas que crescem sem pressa, e que são capazes de, assim como quem não quer nada, irem se infiltrando pelas rachaduras e botando abaixo aos poucos aquela coisa intrusa. Tonéis de piche deixados ao relento revelam-se armadilhas mortais para passarinhos que pousam ali sem saber que jamais voltarão a despregar suas patas daquela armadilha pegajosa.

Armadilha em que, lembra o fotógrafo em seus comentários, qualquer desses prédios pode se tornar. Não precisamos pensar nos fantasmas dos filmes de terror. O vazio, o isolamento e a decomposição são perigos suficientes. Ele aconselha: levar sempre um celular, uma lanterna, calçar botas (há sempre cacos de vidro e pontas enferrujadas pelo chão), sempre avisar alguém onde está indo e a que horas, nunca confiar nos pisos de madeira, principalmente nos andares superiores. Nunca se sabe.





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