quinta-feira, 19 de junho de 2008

0414) Dez anos do Tetra (17.7.2004)


(Baggio e Taffarel -- foto de Cláudio Versiani)

A imprensa comemora os dez anos do tetracampeonato que a Seleção conquistou nos EUA em 1994. Em algum lugar daqui de casa tenho guardadas 7 fitas VHS com as 7 partidas com que o Brasil ganhou aquele título. Vi o primeiro jogo (Brasil 2x0 Rússia) na casa de meu irmão Pedro, que o gravou e me deu a fita de presente. Considerei isto um bom augúrio, e passei a gravar todos os jogos seguintes. Deu no que deu – mas a CBF até hoje não reconheceu minha decisiva contribuição àquela conquista.

Torcedor é capaz de qualquer macumba-mental para fazer um time ganhar um jogo, ainda mais com um jejum de 24 anos em Copas do Mundo. Ainda hoje uma parte da crítica torce o nariz para aquele título. A Seleção era defensiva, jogou mal, empatou de 0x0 na final, foi pros pênaltes, e ganhou com um erro do adversário! Uma vitória de Pirro, que a gente só comemorou porque, se não comemorasse, quem iria fazê-lo? Os italianos?

E a Seleção não goleou ninguém, o que é um pecado terrível para a nossa arrogância imperialista. Brasileiro adora humilhar as seleções alheias; faz bem ao nosso complexo de colonizado. Ganhar de 1x0 dos EUA (num jogo mais tenso e mais disputado do que a batalha de Verdun) foi considerado uma afronta ao nosso currículo. A imprensa exige o tempo todo que Brasil ganhe “dando espetáculo”. Eu gosto de espetáculo. Gosto do nosso jeito de jogar, que os ingleses batizaram de “The Beautiful Game”, e minhas Seleções preferidas são as de 1970 e 1982. Mas sempre acho que esse pessoal trocaria todo o “jogo bonito” do mundo por uma boa e velha pelada, desde que a gente no final enfiasse 4 ou 5 na Argentina ou na Alemanha.

Amigos meus que estiveram nessa Copa disseram que não houve um jogo sequer que prestasse, devido ao calor. A diferença de fuso horário e a necessidade de ter platéias acordadas na Europa fêz com que a maior parte das seleções tivesse que jogar no-pingo-do-meio-dia, sob o sol da Califórnia e do Texas. Uma testemunha ocular comentou: “O calor não era só insuportável, era indescritível.” Ninguém jogou bem ali. Nem mesmo nós. Nosso único jogo mais-ou-menos foi o 3x2 na Holanda; e o resto da Copa foi uma sucessão de confrontos entre Criciúmas x Figueirenses (com todo respeito).

Momentos que justificaram a Copa: o segundo tempo de Brasil x Holanda; o passeio que a Bulgária deu na Argentina (2x0); os 5 gols do russo Salenko em Camarões; os gols e a autoconfiança de Romário; o gol que o romeno Hagi fêz na Argentina lá da linha lateral; o gol de Bebeto nos EUA; o gol de Branco; a Bulgária despachando a Alemanha de virada (2x1); a defesa crucial de Taffarel no pênalti de Massaro; as participações da Nigéria, Bulgária e Romênia; as atuações individuais de Taffarel, Márcio Santos, Aldair, Dunga, Mauro Silva, Bebeto e Romário. Não foi uma grande Copa, mas a essas coisas se aplica o que dizia Blake Edwards sobre o sexo: “Quando é bom, é a melhor coisa do mundo, e mesmo quando é ruim ainda é bom pra c***”.

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