– Sísifo, fala pra gente como é essa emoção de todo dia conseguir enviar uma pedra para o vale. Como explicar tanto sucesso?...
A revista pernambucana Continente Multicultural lançou, neste número do mês de julho, um encarte com um poema meu ilustrado por Cavani Rosas, Na Torre da Lua Cheia. Acho que a esta altura todo mundo no Brasil conhece essa excelente revista, na qual já colaborei várias vezes, e onde já fui entrevistado. Pode ser adquirida diretamente no saite, em várias bancas e livrarias nas Capitais; aqui no Rio de Janeiro, onde moro, vende nas livrarias Blooks e Travessa.
Na Torre da Lua Cheiaeu estava adormecidoquando acordei de repentetalvez ouvindo um ruído.Levantei da minha enxergafui tateando a paredeaté achar a janelano meio da escuridão;localizei o ferrolhopuxei pra cima com forçae a janela abriu-se todapara a noite do Sertão.
Algum tempo atrás, comentei aqui neste blog o quanto é
rara a Poesia Fantástica em nossa literatura. É possível achar numerosos
exemplos do Fantástico em verso no Brasil, é possível até montar uma boa
antologia, mas mesmo assim ninguém pode dizer que há aqui uma corrente contínua
de poemas fantásticos dialogando e influenciando-se ao longo dos séculos. É
como se cada autor começasse do zero.
A exceção, como sempre, é o cordel – que no seu sistema
tradicional de sextilhas e décimas, e rimas consoantes, tem um impressionante
repertório de histórias fantásticas, mesmo que aparentemente diluídas na
tradição “folclórica” e anônima.
Na Torre da Lua Cheia tem algo de ficção científica, e é um poema que dormia na gaveta há
muitos anos quando, numa conversa minha com Cavani Rosas, ele perguntou: “Você
não tem nenhum texto falando de monstros, de assombrações?...”
Que sai agora, encartada num exemplar muito interessante
da Continente, dedicado à música
brega e à música soul. Para mostrar
(talvez) que tudo coexiste, que tudo respira o mesmo ar e bebe a mesma água.
Uma pergunta que alguém pode vir a fazer: por que não
publicar em forma de cordel tradicional? A resposta mais óbvia é que as
ilustrações foram feitas em tamanho grande e precisam de um mínimo de espaço
para serem reproduzidas à altura. Cavani desenha geralmente em nanquim e
bico-de-pena, naquele pontilhado minúsculo de quarks escuros que se aglomeram sugerindo matéria, relevo,
sombreados.
Para ficar à altura dessas minúcias, a primeira idéia,
depois de descartado o cordel, foi fazer um álbum mais chique, tamanho revista,
papel cuchê ou algum outro de ótima qualidade de reprodução, talvez até capa
dura. Uma publicação semelhante às graphic
novels que tanto eu quanto ele gostamos de ler.
Esse formato não está descartado, mas pode ficar para
depois, porque vai ser um item de produção mais cara. Ficamos deliberando – e
somos dois procrastinadores compulsivos, deliberar essas coisas leva anos – e
nesse ínterim surgiu a idéia, lá no Recife, de fazer um formato intermediário
– tamanho graphic novel, mas num
papel mediano, e a edição seria encartada na Continente.
A revista da CEPE (Companhia Editora de Pernambuco) tem
uma ótima circulação, é lida em muitos Estados, vende em banca e em livraria (inclusive Blooks, Martins Fontes, Travessa...),
tem muitos assinantes... Encartar nosso “folheto” numa edição da revista seria
um modo de fazê-lo chegar a leitores que normalmente jamais tomariam conhecimento de uma produção independente.
E assim... vualá! Eis o nosso narrador da Torre alçando seu voo e contemplando lá de cima o Brasil do segundo
semestre de 2022, Brasil que entrará para a História. Depois não digam que nós
não avisamos.
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Telefones: (81) 3183.2780 | (81) 3183.2779
E-mail: continenteonline@cepe.com.br
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