4658) Resoluções de Ano Novo (29.12.2020)
Parar de beber todo copo de veneno que botam na minha
frente.
Produzir protótipos dos “filtros protetores nasais” que
imaginei anos atrás, num conto de FC, sem nem sequer imaginar pandemias ou
coronas.
Livrar-me do hábito irritante de olhar o céu estrelado e
imaginar que aquilo é um vitral colorido que pode ser estilhaçado por um
meteorito qualquer.
Desistir de buscar a saída do labirinto, e me conformar
com o fato de que já o sei de cor.
Fazer aquele curso de mordomo, por via das dúvidas.
Publicar um poema apaixonado com o título “Para _____”, e
produzir uma planilha com os feedbacks.
Por via das dúvidas, deixar de me apresentar com
“Agnóstico” e passar para “Quase Agnóstico”.
Decidir se devo apoiar os que lutam pela segurança que
sempre tiveram, ou os que lutam pela liberdade que nunca experimentaram.
Dar uma geral na casa, juntar todas as tampas sem canetas
e todas as canetas sem tampas.
Achar a sacola de livros que se perdeu na mudança de
junho de 2019 com minhas antologias de Judith Merrill.
Separar as roupas que uso há 20 anos e doar ao brechó as
que não uso há 20 anos.
Comprar um livro em mandarim e tentar lê-lo depois que
tomar a vacina.
Arranjar um amigo imaginário, desde que esteja também
confinado, num lugar distante.
Comprar um chapéu. Preciso impor respeito.
Voltar a treinar meu ping-pong da mão direita contra a
mão esquerda.
Trocar meus óculos-para-longe, agora inúteis, por
óculos-para-perto.
Arranjar um tigre de dentes de sabre para levar comigo
quando for toda noite à padaria.
Quebrar minha promessa e revelar publicamente o que
descobri sobre o destino da Expedição Fawcett.
Aprender a cozinhar, mesmo que somente eu aceite degustar
os resultados.
Passar uma semana na Venezuela e preparar uma tabela Excel
comparativa. Repetir daqui a um ano.
Escrever uma autobiografia imaginária, só com as coisas
que não aconteceram.
Ganhar o meu primeiro milhão de dólares (segundo dizem, é
o mais difícil de todos).
Descongelar aquela coisa de tonalidade violácea que está
no freezer desde o ano passado e verificar do que se trata.
Comprar uma Bíblia em inglês para aquela pesquisa sobre
os glossários de Bob Dylan e de Leonard Cohen.
Escrever um cordel sobre o Ninho do Urubu.
Trocar as cordas do violão e tentar gravar minhas músicas
inéditas enquanto é tempo.
Continuar pagando velhas dívidas e contraindo novas
dívidas, como um coração que bate.
Tentar lembrar o que foi mesmo aquela minha façanha da
infância de que eu me orgulhava tanto.
Tatuar na barriga uma grade de palavras-cruzadas em
branco.
Fazer uma “live” cantando e recitando, sem avisar a
ninguém.
Evitar cometer tantos erros de concordância. Manter os de
discordância.
Só não pare de repartir os biscoitos finos da sua literatura.
ResponderExcluirBom 2021!
ResponderExcluirMaravilha de lista, Braulio.
ResponderExcluirQue em 2021 vc continue inspirado e inspirador como sempre.
Abrrr, tudo de bão ao seu redor.
Caramba, velho. Como é bom ler seus textos.
ResponderExcluirCaí no seu blog pesquisando sobre SF, mas leio tudo, tudo, tudo.
O blog é muito rico.
Obrigado BT :)