Luis Buñuel (22.2.1900 - 1983)
“É incontestável que [os norte-americanos] possuem o senso do cinema a um grau muito mais elevado que nós.” (1927) (Kyrou, 81)
“De todos os seres
vivos que encontrei, Federico [Garcia Lorca] é o primeiro. Não falo nem do seu
teatro nem da sua poesia, falo dele. A obra-prima era ele, parece-me mesmo
difícil imaginar alguém parecido.” (Suspiro,
171)
“Sou materialista, no entanto isto não quer dizer que
recuse a imaginação, a fantasia, ou mesmo a existência de certas coisas
inexplicáveis. Racionalmente, não acredito que um homem que perdeu as mãos
possa fazê-las crescer de novo, mas posso agir como se acreditasse, pois o que
me interessa é o que acontece depois.” (Objects,
183)
“Pessoalmente, não gosto de música nos filmes, acho que é
um elemento covarde, uma espécie de truque, salvo em certos casos,
naturalmente. (...) Considero-a como um elemento parasita, que serve, principalmente,
para valorizar cenas que não têm, aliás, nenhum interesse cinematográfico.” (Kyrou, 111)
“Um refugiado chileno deu do México uma definição
patusca: ‘É um país fascista atenuado pela corrupção’”. (Suspiro, 232)
“Na cena da sala em El,
quando o protagonista recebe a mulher que se tornará sua esposa, inseri um meio-close-up
de uma mulher que na verdade pertencia a uma sequência anterior, com outro
cenário e outro figurino. Ninguém
jamais percebeu.” (Objects, 51)
« [Numa entrevista em 1956] – Vai filmar La Femme et le Pantin [o livro que resultou
em Este Obscuro Objeto de Desejo]? – Sim, quando tiver encontrado uma atriz
capaz de fazer o papel principal: uma mocinha sensual, virginal e demoníaca.”
(É o papel que no filme, de 1977, foi interpretado por duas atrizes.) (Kyrou, 98)
“O mistério, elemento essencial de toda obra de arte,
falta em geral nos filmes. Autores, realizadores e produtores têm grande
cuidado em não perturbar nossa tranquilidade, deixando fechada a maravilhosa
janela da tela sobre o mundo libertador da poesia.” (Kyrou, 86)
(Um Cão Andaluz)
“As heresias me interessam assim como todos os
inconformismos do espírito humano me interessam, seja na religião, na cultura
ou na política. Um grupo cria uma doutrina, e milhares de indivíduos aderem a ela.
Então, alguns dissidentes começam a surgir, pessoas que acreditam em tudo que
aquela religião prega, exceto um ou dois detalhes. São punidos, são expulsos do
grupo, perseguidos, e tem início então uma porção de guerras sectárias nas
quais as pessoas cujas crenças diferem apenas um pouquinho tornam-se mais
odiadas do que o inimigo comum.” (Objects,
192)
(Belle de Jour)
“A digressão é a minha maneira natural de contar, um
pouco idêntica ao romance picaresco espanhol. (...) Começo uma história,
abandono-a imediatamente para fazer um parêntesis, que me parece mais atraente,
e depois esqueço o meu ponto de partida e fico perdido.” (Suspiro, 181)
“É precisamente esta a natureza do surrealismo: nem tudo
precisa ser surrealista num quadro de um pintor surrealista, basta um pequeno
detalhe, que pela lógica não podia estar presente ali.” (Objects, 109)
(Max Ernst)
“Em dezenove ou vinte filmes, tenho três ou quatro
francamente maus, mas em nenhum deles fraudei meu código moral. Ter um código é
pueril para muitas pessoas, mas para mim não. Sou contra a moral convencional,
os fantasmas tradicionais, contra o sentimentalismo, contra toda essa sujeira
moral da sociedade introduzida no sentimentalismo. Evidentemente, fiz maus
filmes, mas sempre moralmente dignos.” (Kyrou,
103)
“No México, fui um dia convidado a visitar as instalações
[de uma escola de cinema]. Apresentaram-me quatro ou cinco professores, entre
eles, um jovem corretamente vestido, que corava quando falava. Pergunto-lhe o
que ensina e ele responde-me: ‘A semiologia da imagem clônica’. Por minha
vontade, tê-lo-ia assassinado.” (Suspiro,
243)
“Os sonhos são uma continuação da realidade, da vida
desperta. Num filme eles só têm valor se não anunciarmos: ‘Isto é um sonho’.
Porque então o espectador dirá: ‘Ah, eis um sonho. Não é algo importante.’ O
público fica desapontado e o filme perde seu mistério, seu poder de perturbar
as pessoas.” (Objects, 212)
“Passei horas deliciosas nos bares. O bar é para mim um
local de meditação e recolhimento sem o qual a vida é inconcebível.” (Suspiro, 45)
Fontes:
Objects of Desire – Conversations with Luis Bunuel, José de la Colina & Tomás Pérez
Turrent, New York, Marsilio, 1992.
O Meu Último
Suspiro, Luis Buñuel, Lisboa, Distri, s/d.
Luis Buñuel,
Ado Kyrou, Rio, Civilização Brasileira, 1966
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