“Assustado” era um termo usado nos anos 1950-60 para
designar um baile de moças e rapazes em casa de família. O nome se deve ao fato de que, no início, o
costume era fazer a festa de surpresa. Combinava-se tudo antes à revelia da
pessoa cuja casa havia sido escolhida para a “invasão”. Cabia às moças levar os
salgadinhos, e aos rapazes os refrigerantes e outras bebidas.
Na hora marcada,
o grupo chegava de repente na casa, e em poucos minutos a radiola estava
tocando, todos bebiam e dançavam. Como reagiam os donos da casa? Olha, pelo que
me lembro, nunca fiquei sabendo de alguma reação hostil. Eram outros tempos –
talvez.
Depois, o termo estendeu-se para qualquer festa dançante
numa residência, mesmo previamente combinada com os donos da casa. Era um típo de festa moderninha, urbana.
José Laurentino, em Meus Versos Feitos na Roça, diz:
A prima me olhou sorrindoe disse pobre coitadojá sei que você meu primoainda está atrazadoé do mato é arigóeu não gosto de forrónós vamos a um assustado.
Em sua pesquisa A Música Popular no Romance Brasileiro,
José Ramos Tinhorão registra várias vezes este termo, como ao transcrever (vol.
1, pag. 131-132) uma cena de Memórias de um Sargento de Milícias de Manoel
Antonio de Almeida:
“Resultado: acaba sendo preso pelo Vidigal como vadio durante uma súcia – como se chamavam na época as pequenas farras improvisadas, estilo assustado...”
Em outro momento, Tinhorão comenta um romance de Clóvis
Amorim, de 1934:
“Era o que já se podia comprovar no capítulo ‘Fuzarca’ desse romance O alambique, ao descrever o escritor uma festa de assustado na casa do personagem Laurentino.” (vol. 2, pag. 208).
Mais adiante, comentando A
marcha de Afonso Schmidt (1941), deixa clara a diferença entre um
« assustado » e uma festa de verdade: "Ao dizer que D. Sinhara
chamava o baile em preparação de assustado, o romancista ressalva que ela
“dizia assustado por modéstia” (vol. 2, pag. 374).
Nessa intersecção
entre dança, bebida e música, outros termos, no que me diz respeito, estão
rumando para o desaparecimento, como certos eventos dos clubes sociais: a
“manhã de sol” (um conjunto musical tocando à beira da piscina), o “jantar
dançante”, a “tertúlia” (o baile do sábado, ou do domingo à noite, não lembro
mais; a noite nobre da semana). Como não frequento mais esses clubes, no
entanto, talvez esses termos continuem de vento em popa e quem esteja rumo ao
ocaso seja eu mesmo.