Um dos maiores desafios para os cientistas que trabalham em
regiões avançadas do conhecimento é explicar aquilo em linguagem comum. Não só
para o famoso “leitor mediano” dos jornais. Falo em justificar projetos e
justificar pedidos de verbas diante de administradores, políticos ou burocratas
cujo conhecimento científico é dos mais rarefeitos.
A imprensa divulgou com alarde, há pouco tempo, uma
descoberta relativa às ondas gravitacionais. Isso sempre me intrigou. Eu sempre
admiti que a luz (ou melhor o fenômeno eletromagnético) pudesse ser visto tanto
como uma manifestação de ondas quanto de partículas em movimento. Os cientistas
diziam que as duas coisas, mesmo confirmáveis pela experiência, eram mutuamente
excludentes. Ou era uma, ou era a outra. Como nos domínios da FC a gente está
sempre a uma página de uma revelação portentosa, deixei a questão em aberto.
Ondas gravitacionais (ou as partículas gravitacionais, ou
“grávitons”, com que a FC também já brincou), contudo, são outra coisa, se
aceitarmos que a gravidade é mesmo uma curva no espaçotempo, a deformação
produzida nele pela presença da matéria. Como captar isso e traduzi-lo para
repórteres e para adolescentes que leem Asimov e Clarke? Scott Hughes, na
London Review of Books (http://tinyurl.com/zddxsfu),
explica a certa altura o que houve:
“Numa galáxia distante, muito tempo atrás, um par de buracos
negros, cada um com mais de trinta vezes a massa do nosso Sol, entraram em
órbita um em volta do outro. Durante as próximas centenas de milhões de anos,
ondas gravitacionais geradas pelo seu movimento os fizeram girar em espiral,
devagar a princípio, mas depois ganhando velocidade, chegando cada vez mais
perto, até estarem rodopiando mais depressa do que as lâminas de um
liquidificador. Acabaram colidindo, já a um terço da velocidade da luz,
emitindo uma última rajada de ondas gravitacionais, antes de amainar e recolher-se
à vida pacata de um buraco negro comum.”
Decerto perdeste o senso.
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