(ilustração: Alberto Russo)
Cap. 1 – De como Minotauro Bob explodiu na cena roqueira
nordestina à frente de uma banda pegada-no-laço, sem ensaio, sem passagem de
som, um mero agrupamento de quatro rapazes destreinados aos quais ele passou
uma única instrução: “O tom de tudo é Sol Maior, e a levada é assim, ó”.
Cap. 2 – De como a repercussão dos primeiros shows foi
tamanha que convites para gigs começaram a pipocar nos dois celulares do
hirsuto vocalista, e quando ele atendia um dizia para ligar pro empresário dele
e dava o número do outro celular, o qual atendia com voz modificada.
Cap. 3 – De como numa noite de verão o trânsito dos quarteirões
em volta do Bar de Zeco, em Serra Redonda, foi bloqueado pela multidão que
compareceu ao show de Minotauro Bob e a Banda Asterion, intitulado “O Som é
Esse e a Porta é Por Ali”.
Cap. 4 – De como isto foi apenas o começo de um torvelinho
insone de rock ensurdecedor, microfonias, suor, acotovelamento, cerveja morna, pegação,
camarins repletos de groupies disfarçadas de repórteres e de repórteres que
viravam groupies, e comemorações pós-show mais ruidosas do que os shows
propriamente ditos.
Cap. 5 – De como Minotauro Bob inaugurou o costume de,
bebida a última cerveja do camarim, pular e cair sentado dentro da caixa de
isopor cheia de gelo.
Cap. 5 – De como Minotauro Bob foi pêgo comendo bode guisado
numa birosca-com-sinuca no bairro do Tombador e espinafrado por dois cabeludos
para quem rock era religião e bode era comida de forrozeiro, e sem parar de
mastigar ele pegou os dois e deu uma surra num usando o outro de chibata.
Cap. 6 – De como Minotauro Bob se apaixonou por Suze Leruá,
astróloga, tatuadora, com lojinha na rua Índios Cariris, e os dois se
envolveram num fetiche sexual zumbidor, pintando sereias por cima de caveiras
da SS, transformando a cara de Bowie num cybercamaleão e por aí vai.
Cap. 7 – De como a banda foi contratada por engano para
tocar num reveillon num resort tropical na Costa do Sauípe, e com 15 minutos de
show os bacanas locais, uiscados até o talo, invadiram o palco de garrafas em
punho para interromper uma suposta felação recíproca entre dois roadies
bêbados.
Cap. 8 – De como o hospital e a prisão devem ter mexido no
software de Minotauro Bob, porque na cadeia ele aprendeu a tocar violão,
converteu-se à Psicanálise Quântica, escreveu um livro infantil (tudo isso em
dois meses), casou com Suze no dia em que foi libertado, mudou o nome da banda
para Rasante de Teco-Teco, emplacou uma música numa novela, ficou rico e está
rico até hoje, o que mostra que o mundo pode ser mesmo sartreanamente absurdo,
mas que Deus de vez em quando aparece para assinar o ponto.
Fui até o altar do Google atrás do sujeito. Ficção ou Google também caiu? se non è vero è bene trovato.
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