Muitos anos atrás, Michelangelo Antonioni observava que cinema e televisão estavam ficando cada vez mais parecidos. As salas e telas de cinema ficavam cada vez menores, e as telas da TV (e os correspondentes aparatos sonoros) cada vez maiores.
Note-se que ele disse isso em 1985, muito
antes das nossas TVs digitais de não-sei-quantas polegadas, dos nossos
poderosos “home-theatres”, das nossas salinhas especiais para 60 espectadores.
Isso era num tempo em que um cinema mediano tinha mil lugares.
A cultura do
“mash-up”, da reedição e remontagem de material alheio pré-existente, vai se
difundir cada vez mais. O uso de webcam e de transmissões ao vivo tipo “Mídia
Ninja” vai fornecer um gigantesco copião em crescimento constante e acelerado;
por trás dos que filmam virão os que editam, e esse gigantesco acervo de
material produzirá filmes coletivos de todo tipo, desde cinema-verdade até
colagem-dadaísta.
A essência do cinema (seja lá o que isto for) muda a cada ano,
a cada década. A experiência cinematográfica da minha adolescência não tem nada
a ver com a da adolescência dos meus filhos.
Lumière disse que o cinema era uma
invenção sem futuro; Thomas Edison achou que o disco fonográfico iria servir
para o estudo de idiomas. Inventores, em geral, estão examinando sua invenção
quase tocando-a com a ponta do nariz, e não fazem a menor idéia das
consequências que aquilo pode ter.
Meio século atrás, nos EUA, filmes estreavam em circuitos
secundários, periféricos, e os produtores iam avaliando a reação do público e
direcionando aquele título rumo aos mercadores mais promissores. Hoje, vigora a
cultura do “first week-end”: toda uma verba gigantesca, e a logística
correspondente, se volta para o fim-de-semana em que o filme será exibido simultaneamente
em 3 mil ou 4 mil salas, no país inteiro.
É um super investimento de risco. Um
filme que não vai bem nesses três dias de lançamento raramente se recupera. É
tudo ou nada. Em breve inventarão “cinemas sensíveis”, capazes de aferir a
resposta emocional do público ao longo da sessão e editar o filme (suprimindo
ou acrescentando cenas específicas) durante a própria projeção.
Nos subúrbios do império, a coisa é diferente. Em breve teremos
em nossos smartphones não apenas os aplicativos de câmera mas também os de ilha
de edição. Será possível filmar e editar o filme no celular, e depois distribuí-lo
via WhatsApp, email, inbox do Facebook, o escambau. Curta-metragens serão
distribuídos quase como spam, para milhares de telefones ao mesmo tempo.
"Se for algo já presente na cultura, for tecnicamente possível
e não for economicamente inviável, provavelmente irá acontecer."