(ilustração: Berenice Abbott)
Há muitos blogs e saites por aí explorando
sutilezas das línguas, como por exemplo as palavras que não têm equivalente
direto em outros idiomas. Nós, lusófonos, nos orgulhamos de nossa “saudade”,
uma palavra preciosa para um sentimento que talvez a gente sinta melhor do que
os demais, graças à variedade de contextos pessoais e coletivos em que a
palavra é usada.
Todo idioma tem esses termos que, noutra
língua, precisam ser explicados, e que, quando se trata da tradução de um
livro, forçam o tradutor, rangendo os dentes de raiva, a fazer longos
circunlóquios para explicar o que o autor conseguiu dizer com um único termo.
No alemão cita-se muito “Schadenfreude”, que é “a alegria que sentimos quando
vemos alguma coisa ruim acontecer com alguém”. Esta é uma descrição aproximada,
claro; todo mundo que a descreve adiciona uma fímbria nova de sentido, e é pra
ser assim mesmo. “Schadenfreude” talvez seja aquela sensação que nos faz ficar
olhando algo e murmurando baixinho: “Bem feito!”, ou “Toma!”.
Num desses saites um leitor norte-americano
lembrou a quantidade de palavras assim que há no inglês e lembrou
“discombobulated”. Para este, eu sugeriria o nosso “descompensado”. “Fulano era
um cara normal, mas passou anos tomando LSD direto, e ficou meio
descompensado”. O mesmo leitor pede um equivalente para o inglês “rigmarole”,
que o dicionário define como “conversa ou história sem nexo ou sentido”, e que
entre nós talvez possa ser preenchido com “xaropada”, “lero-lero”...
Também em inglês tem o caso de “shenanigan”,
uma palavra traiçoeira que pode significar, de acordo com o contexto e o tom:
trapaça, golpe, embromação, enrolada, um-sete-um, caô,
papo-de-urubu-pra-moribundo. Palavras assim são sempre fortemente coloquiais, e
de etimologia confusa. Para “shenanigan”, p. ex., já foi sugerido o francês
“ces manigances” (“essas trapaças”).