sábado, 20 de junho de 2015

3845) "eXistenZ" (20.6.2015)



Coordenei para a Escola de Cinema Darcy Ribeiro (Rio de Janeiro) uma Mostra do Cinema Fantástico, com filmes nos sábados às 14:00h, entrada franca. A escola fica na esquina da Rua 1º. de Março com Rua da Alfândega, pertinho do CCBB. (Após a sessão, neste sábado, haverá debate com o prof. Sérgio Almeida.)

Hoje, sábado 20 de junho, será exibido o último filme dessa mostra: eXistenZ de David Cronenberg (1999). O diretor tem realizado thrillers policiais realistas nos últimos anos, mas marcou sua posição no cinema com uma série de filmes semi-FC descrevendo os tipos mais incômodos e delirantes de relacionamento entre seres humanos, máquinas, criaturas monstruosas em geral, num clima de estados alterados de consciência e morbidez mental generalizada. Ele já filmou autores como Don DeLillo, J. G. Ballard e William Burroughs, sempre encontrando neles pontos de contato com sua própria visão.


eXistenZ tem essa grafia no título, ao que parece, porque dois produtores do filme são húngaros, e a palavra “isten” em húngaro significa “Deus”. E o filme, embora não seja propriamente sobre Deus, é sobre o conceito de realidade, mostrando pessoas que mergulham num videogame que é plugado ao usuário via uma porta cibernética implantada na espinha dorsal, com o auxílio de cordões umbilicais biotecnológicos. Como geralmente se dá nessas situações, depois que o personagem dá o primeiro salto para a “outra realidade” (o game), nunca mais vai ter certeza de onde está, se de fato voltou à realidade onde estava antes, ou se está saltando para níveis cada vez mais remotos de realidades ilusórias.

Saber em que plano está acontecendo cada cena é um dos passatempos deste filme que, segundo dizem, Cronenberg teve a idéia de escrever quando entrevistou Salman Rushdie, na época escondido do mundo devido à “fatwa” islâmica que ofereceu um prêmio por sua cabeça. O diretor pensou em explorar num filme uma situação assim vivida por um designer de games perseguido por um grupo armado.

É um filme com atentados, perseguições, fugas, conflitos. Há momentos arrepiantes em que o “jogo” fica em pausa e seus personagens sorriem, paradões, sem nada ver, enquanto os dois protagonistas comentam o que farão em seguida. Uma incerteza tipo Philip K. Dick permeia o filme, além das eventuais imagens bizarras e meio repulsivas que parecem fascinar o diretor. (O filme é mais leve, contudo, do que pesos-pesados como Videodrome, Almoço Nu ou A Mosca). É um cinema fantástico que deve igualmente à psicanálise, à cibernética, à teratologia, à teoria dos universos múltiplos, às aventuras pulp-ficcionais de heróis por acaso.


Um comentário:

  1. Pena que só li esse texto hoje, 1 dia após o evento da Darcy Ribeiro. Eu queria ter ido.

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